Diário de Curitiba

A escrita como forma de militância

Jornal Lampião da Esquina (Foto: Grupo Dignidade)

O movimento LGBTQIA+ historicamente utilizou a escrita como uma de suas formas de militância, os diferentes jornais, com destaque para o Lampião da Esquina, eram as únicas formas de comunicação entre esses grupos sociais. Por meio dessas publicações era possível ler artigos, conhecer espaços de sociabilidade, entrar em contato com colunistas e, até mesmo, buscar parceiros amorosos através de anúncios, classificados e correspondência aberta.

Obviamente o acesso aos jornais era limitado a públicos das grandes cidades, alfabetizados e pertencentes a uma classe social mais elevada. Entretanto, esses elementos não retiram o potencial de tais veículos de comunicação e nem deslegitimam a maneira pela qual a escrita foi utilizada durante o primeiro momento da militância LGBTQIA+. 

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Através da escrita um número significativo de vozes puderam ser ouvidas, a escrita em jornais possibilitou para a militância do período levantar pautas, organizar atos e denunciar o abuso e violação de direitos que a população LGBTQIA+ sofria. Militantes históricos surgiram nesse período como João Silvério Trevisan, Aguinaldo Silva e João Antônio Mascarenhas que encontraram na escrita sua principal ferramenta de ativismo para levantar os assuntos relacionados à diversidade sexual e de gênero. 

É importante considerar que não foi apenas para luta e reivindicação de direitos que a escrita era utilizada, essas publicações tornaram possível a criação de um novo imaginário e de uma nova forma de ser e se colocar na sociedade por parte dos homossexuais, das lésbicas e das pessoas transgêneras. As manifestações culturais, a literatura e os artigos de opinião trouxeram outros elementos que até então não eram divulgados e seu conhecimento pertencia a um grupo restrito de pessoas.

Por meio da escrita se consolidou, também, a história do movimento LGBTQIA+, hoje diferentes acervos estão organizando e catalogando esses textos, jornais, panfletos, manifestos e publicações que servem para pesquisa, registro e memória de pessoas, instituições, coletivos e organizações que fundaram nosso movimento. Inclusive o nome desta coluna é uma homenagem a Coluna do Meio escrita por Celso Curi em meados dos anos 1970, na ditadura militar, e que abordava as temáticas da sexualidade, prazeres, afetos e pertencimento dentro do, como o autor chamava, universo gay. 

Após algumas décadas desse primeiro momento do movimento LGBTIQIA+, hoje escrever é ainda um ato político e uma dinâmica necessária para trazer a voz da nossa comunidade e expressar nossos anseios, desejos, necessidades e visões de sociedade. 

Mesmo diante de um cenário no qual diversos direitos já foram adquiridos, que a representatividade é uma realidade presente em diferentes esferas sociais e a ocorrência de uma maior visibilidade para as formas de existência de pessoas LGBTQIA+, é fundamental espaços de denúncia, reflexão e exposição das vulnerabilidades que atingem esse grupo populacional.  

Nesse sentido, a presente coluna surge como um espaço de reflexão dos elementos atuais que perpassam a comunidade LGBTQIA+, através de textos quinzenais serão abordadas questões relacionadas à diversidade, direitos, cultura, saúde, lazer, desigualdade e vulnerabilidades sociais relacionadas a este público.  

Hoje ainda existem problemáticas urgentes que atingem a nossa comunidade, como a inexistência de políticas públicas específicas para pessoas LGBTQIA+ em situação de rua, a incidência da infecção por HIV entre gays e outros homens que fazem sexo com homens, a dificuldade de acesso à educação e emprego formal que travestis e transexuais encontram – para citar apenas alguns exemplos. 

Diante disso, é necessário criar espaços que possamos dialogar sobre esses aspectos, construir saberes coletivos e ações com potencial de alcançar nosso grupo. Percebemos então que a escrita é uma dessas possibilidades de militância e da construção de um movimento que emancipe, empodere e transforme realidades locais.

A Coluna do Meio, do Diário de Curitiba, é então mais uma voz dentre tantas do movimento social que busca refletir sobre nossa comunidade em suas diferentes esferas de existência. Para isso convidamos vocês a acompanhar nossas publicações, discutir juntos temas de interesse e, claro, escrever sobre essas temáticas nos diversos espaços que ocupamos.

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