Diário de Curitiba

Tenho uma relação pessoal com o HIV

Foto: Ilustração/Fotos Públicas

Sempre que realizo uma fala pública sobre HIV/Aids começo afirmando: o HIV representa um problema de grande magnitude no Brasil e no mundo, diversos esforços são necessários para enfrentar essa epidemia. Mas, quando penso sobre o HIV na minha vida, esse vírus vai além de uma epidemia, de um problema de saúde pública ou de uma fonte de renda, meu trabalho, é a causa que resolvi me envolver, a causa pela qual me movimento, que uso  todos meus esforços para mobilizar aquilo que posso com o objetivo de difundir informações, desenvolver o controle social, realizar pesquisas e divulgar resultados que possam atingir as pessoas combatendo os estigmas e estereótipos que ainda caminham junto com o HIV/Aids.

Faço parte do movimento de HIV/Aids de forma institucional desde 2018, ano no qual ingressei em um projeto de testagem para HIV no Grupo Dignidade como educador social. Contudo, o interesse na temática ocorre anterior a essa atuação profissional, como homem gay a epidemia de HIV/Aids sempre permeou a minha vida se tornando uma temática na qual despertava grande interesse através da inserção em fóruns e comunidades de redes sociais. 

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Um fato significativo ocorreu no primeiro ano do curso de ciências sociais, recordo que em uma mesa de seminário acadêmico um dos palestrantes confundiu o HIV com a Aids, nesse momento decidi que a trajetória acadêmica que eu seguiria se voltaria para pensar a contribuição da sociologia para compreender as diferentes interfaces da epidemia de HIV/Aids.

É interessante considerar  que a motivação em desenvolver ações relacionadas ao HIV/Aids é um campo interseccionado dentro da minha experiência de vida, uma vez que ocupo espaços dos movimentos sociais e da academia. Não é possível separar esses campos da minha vida, uma vez que em diferentes momentos essas perspectivas se confluem na construção de ações, saberes e conhecimentos.

Desde o momento em que iniciei as ações junto ao movimento social desenvolvi e participei de diferentes projetos com foco no HIV/Aids, suas vulnerabilidades, formas de prevenção e acolhimento de Pessoas Vivendo com HIV/Aids. Essas experiências trouxeram grande enriquecimento na forma de lidar com essas questões, sobre a melhor maneira de abordar esses assuntos e principalmente como tornar minha fala e aquilo que faço como espaços livres, dialógicos e agradáveis.

Quando penso no futuro acredito que serei parte da última geração de militantes que atuam no enfrentamento da Aids, hoje existem diferentes formas de prevenção ao vírus como a PEP, PrEP e outros componentes da prevenção combinada. Mas ainda permanecem inúmeros desafios como a garantia de medicamentos mais eficazes e confortáveis para tratamento do HIV, o aumento de casos de infecção entre jovens de 15 a 24 anos, gays e outros HSH, pessoas trans e trabalhadores do sexo e o preconceito que ainda caminha junto ao vírus. Esses aspectos ilustram a urgência de nosso trabalho, a necessidade de ações e pesquisas que garantam os direitos de Pessoas Vivendo com HIV/Aids e espaços de discussão que tragam essa pauta que ainda é necessária. 

Se eu sou uma Pessoa Vivendo com HIV/Aids isso pouco importa, o fundamental é que corre em minhas veias o ativismo. E como diz uma querida amiga de movimento social: Eu sou todo HIV. 

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