Me causa espanto como os grandes jornais brasileiros (e, por conseguinte, os de todo o Ocidente) são capazes de reproduzirem sempre a mesma notícia, pasteurizada e carimbada.
Como, em geral, compram essas notícias de grandes agências internacionais (AFP, REUTERS, APA, AP), que são as empresas que realmente mantém escritórios e repórteres de campo “in loco”, no “olho do furacão”, então, o que os jornais do Ocidente noticiam são, em realidade, reproduções dessas grandes agências. Raramente temos uma análise mais acurada. Isso fica por conta de canais e de jornais pequenos, alguns especializados. No geral, portanto, a produção de notícias se dá por meio de um grande exercício de “corta e cola”.
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Interessante é que nenhuma dessas notícias conta como se chegou ao fato relatado. Noticiam apenas o fato: “Putin, o maldoso, invadiu a Ucrânia”. Ninguém menciona a história do conflito. Se o fazem (e isso é raro), não contam como o EUA se esforçou para construir esse conflito. Nada é dito sobre como os norte-americanos e alguns aliados europeus têm promovido instabilidade em países fronteiriços, nas bordas da Rússia, instigando “revoluções coloridas” e “primaveras”, causando golpes de estado e derrubadas de governos, substituindo-os por governos aliados ao Estados Unidos e Europa.
Algo muito parecido com o que ocorreu com um paiseco, uma republiqueta de bananas, na América do Sul, em 2016. Lembram? Aliás, na Ucrânia, o ex-presidente Viktor Yanukovytch, aliado da Rússia, foi deposto em 2014, depois de vários meses de um “vem pra rua” encabeçados por grupos como MLBs e Revoltados on-line ucranianos. Ninguém conta que grupos paramilitares armados (como os frequentadores de clubes de tiro que Bolsonaro e os milicos querem incentivar aqui no Brasil), a maioria de confissão neonazista, atuaram como grupos de extermínio de famílias ucranianas pró-Rússia.
A principal acusação contra o presidente Viktor Yanukovytch era de cor-rup-ção (!). Só não foi preso porque fugiu para a Rússia. De 2014 para cá, os dois presidentes que a Ucrânia teve foram fantoches patrocinados “democraticamente” pelo Ocidente (EUA e alguns países europeus): com a ajuda de muita fakenews, retirando os candidatos fortes da disputa eleitoral com base em acusações de corrupção, incentivando grupos civis a se armarem e formarem milícias radicais e extremistas que perseguem e matam a oposição, e etc.
Parece até um filme que nós, brasileiros, vimos recentemente. Não é à toa que Sérgio Moro tem salientado que a Ucrânia é um modelo para o Brasil, no combate à corrupção. Lá, foi criado um tribunal especial para casos de corrupção que, na verdade, se revelou um instrumento de perseguição de políticos pró-Rússia. Não por acaso, figuras um tanto desaparecidas como Sara Winter, Alan dos Santos, Daniel Silveira, entre outros, viviam pedindo a “ucranização do Brasil”. A intenção era (e ainda é) armar e facilitar a formação de bandos armados pelos Brasil, que deveriam fazer o serviço sujo que as Forças Armadas e as polícias estariam constitucionalmente proibidas de fazer: exterminar opositores de esquerda e manter, pelo terror, a sociedade à margem direita. Este é o retrato da Ucrânia, onde o Batalhão Azov, um grupo de civis paramilitares assumidamente neo-nazista, age no país com total liberdade para matar ucranianos russófilos. A forma como o conflito é noticiado parece que nada tem a ver com o Brasil, não é?
Ora, isto ocorre porque os grandes jornais desinformam. Desinformam porque não querem pessoas informadas, com capacidade de julgar a realidade por si mesmas. Eles querem formar defensores de uma ideia. Defensores do “mundo civilizado”, da Ucrânia, da Europa e do EUA. Querem formar defensores cegos, que questionam com dureza a invasão da Ucrânia pela Rússia, mas que aceitem passivamente a invasão do Iraque pelo EUA, com base numa mentira (a existência de armas de destruição em massa), deliberadamente inventada.
Por isso, os jornais desinformam, só abordando o fato cru. Não explicam o problema. Não contam a história toda. Não preenchem os silêncios presentes no discurso. Por outro lado, a tendência do leitor é concordar com a visão ou interpretação dominante (mainstream). Ele foi educado ao longo da vida para desconfiar da Rússia e até odiá-la. A minha geração cresceu acostumada ao cinema hollywoodiano apresentando os russos apenas como maus e perversos. É mais fácil e menos custoso, portanto, (des)informar os leitores reproduzindo uma história que terá, sabidamente, mais aderência ao público.
Ainda que a busca pela verdade, com alguma imparcialidade, seja sacrificada.