Diário de Curitiba

Mangás, coletâneas de crônicas e contos, histórias sobre religião, o futuro do Planeta Terra e representatividade racial são lançamentos da Editora Todavia em setembro

FOTO: DIVULGAÇÃO.

A fé e o fuzil: crime e religião no Brasil no século XXI

Bruno Paes Manso

Clique aqui agora e receba todas as principais notícias do Diário de Curitiba no seu WhatsApp!

 

 

 

FOTO: DIVULGAÇÃO.

Depois de esmiuçar o mundo do crime no Rio de Janeiro em A república das milícias, Bruno Paes Manso volta com um mergulho em outra dimensão da criminalidade no Brasil. A partir de depoimentos de ex-criminosos que tiveram a vida transformada pelo contato com a religião, o autor desconstrói estigmas associados às novas denominações evangélicas e mostra como o crescimento desses grupos responde a anseios profundos de uma população exposta a todo tipo de violência. 

De que modo o crime no Brasil se transformou com o crescimento das igrejas evangélicas a partir dos anos 1990? Como trajetórias individuais de
criminosos foram afetadas a partir do contato com as novas denominações religiosas? Quais respostas as igrejas evangélicas oferecem que o catolicismo tradicional não oferecia? Como se relacionam o crescimento evangélico e o fluxo migratório para as cidades, decisivo para a compreensão do crime no país? De que modo valores conservadores associados às denominações evangélicas se tornaram centrais para a política brasileira?

Eis algumas das muitas perguntas que este livro procura responder. Os ingredientes são os mesmos que fizeram de Bruno Paes Manso um dos grandes autores da não ficção brasileira recente: a curiosidade genuína pelos entrevistados, a disposição para sair da bolha e desafiar as próprias crenças, o acesso a realidades da periferia que o jornalismo tradicional não costuma alcançar, o repertório teórico de quem pesquisa o assunto há décadas, a escrita escorreita e narrativa, focada em histórias pungentes e em pessoas de carne e osso.

Num país marcado por carências de todos os aspectos, as igrejas evangélicas conquistaram um espaço que o Estado deixou vazio. Muitos pastores abandonaram o púlpito e agora ocupam postos no Congresso Nacional, com influência visível em múltiplos aspectos da sociedade brasileira. Paes Manso escolheu um deles — a criminalidade — para mais uma vez nos mostrar um Brasil que ainda não conhecemos.

Bruno Paes Manso é autor de A guerra: A ascensão do pcc e o mundo do crime no Brasil (Todavia, 2018), em coautoria com Camila Nunes Dias, e de A república das milícias (Todavia, 2020), entre outros livros. É jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP.

Minha pátria é a língua pretuguesa: crônicas

Kalaf Epalanga

FOTO: DIVULGAÇÃO.

Nesta seleção de algumas de suas melhores crônicas, Kalaf Epalanga reflete sobre a riqueza que a miscigenação cultural é capaz de promover, sobre os laços entre África e Brasil, sobre seu trânsito entre continentes, artes e sociedades. Com clareza argumentativa, elegância estilística e paixão onívora por todas as manifestações artísticas, o autor traz aqui um panorama variado da experiência de um pensador negro que está sempre a auscultar o coração da produção cultural do planeta.

Na presente seleção de crônicas e ensaios aparecidos originalmente nos livros Estórias de amor para meninos de cor e O angolano que comprou Lisboa (por metade do preço), além de outros textos pinçados do jornal digital Rede Angola e da revista literária Quatro Cinco Um, o autor se mostra a um só tempo uma espécie de herdeiro da crônica brasileira — Epalanga é um leitor atento de Rubem Braga e, dentre os contemporâneos, Cidinha da Silva — e um intelectual de intervenção, refletindo sobre temas como o diálogo centro × periferia, racismo, língua portuguesa (ou “pretuguesa”), entre outros tópicos. Um capítulo especial é destinado à música popular, em que o autor é nome destacado graças ao trabalho no Buraka Som Sistema e como produtor de artistas luso-africanos.

Da infância em Angola às quebradas do Rio de Janeiro, da música eletrônica às doces encrencas da paternidade, chegando aos debates mais abrasivos (e necessários) a respeito de nossas sociedades, Kalaf Epalanga traça um painel bem-informado e imensamente sedutor, graças a um estilo leve, inteligente e que acolhe o leitor com generosidade e abertura. Um convite à dança da inteligência.

Escritor, músico e curador, Kalaf Epalanga nasceu em Angola, em 1978. Dele, a Todavia publicou Também os brancos sabem dançar (2018), sua aclamada estreia no romance.

A educação pela noite; Um funcionário da monarquia; Teresina etc. e Vários escritos

Antonio Candido

FOTO: DIVULGAÇÃO.

A primeira leva de obras de Antonio Candido (1918-2017), publicada pela Todavia em março de 2023, marcou a chegada do autor a sua nova casa e reuniu títulos como Formaçãoda literatura brasileira (1959) e O discurso e a cidade (1993), exemplos clássicos de seu elaborado pensamento crítico. Agora, nesta nova leva, quatro livros trazem outros de seus textos de grande projeção.

Em Vários escritos (1970) e A educação pela noite (1987), destacam-se os ensaios “Esquema de Machado de Assis”, “O direito à literatura”, “Literatura e subdesenvolvimento” e “A Revolução de 1930 e a cultura”, todos de suma importância para a interpretação da literatura no país. Já Teresina etc. (1980) e Um funcionário da monarquia (1985), ao apresentar os perfis biográficos de uma socialista italiana (Teresina Carini Rocchi) e de um burocrata de origem modesta (Antonio Nicolau Tolentino), dão mostras da amplitude de escopo de Candido. 

Antonio Candido de Mello e Souza nasceu no Rio de Janeiro, em 1918. Crítico literário, sociólogo, professor, mas sobretudo um intérprete do Brasil, foi um dos mais importantes intelectuais brasileiros.  É autor de clássicos como Formação da literatura brasileira (1959), Literatura e sociedade (1965) e O discurso e a cidade (1993), entre diversos outros livros.

O céu para os bastardos

Lilia Guerra

FOTO: DIVULGAÇÃO.

A história de uma trabalhadora doméstica brasileira que, vivendo na periferia, ocupa o centro da vida social graças à sua sensibilidade, simpatia e humanidade. É um romance sobre o sentido da emoção e da inteligência na realidade mais cotidiana. Num tom de crônica sobre a periferia, trazendo muito mais do que as questões graves que assolam esse espaço social, dando lugar para a delicadeza e o registro cômico, Lilia Guerra constrói aqui um riquíssimo painel da vida brasileira.

Fim-do-Mundo, o espaço onde habitam os protagonistas deste delicioso romance de Lilia Guerra, é uma espécie de Macondo periférica: encapsula todas as dores (muitas) e as delícias (igualmente vastas) dos habitantes que levam horas dentro de ônibus apinhados para chegar ao serviço todos os dias. Um lugar onde meninos morrem cedo nas mãos da polícia ou nas guerras do tráfico. Onde paus-d’água, sentados em cadeiras de plástico, são os comentaristas da vida do bairro. Um espaço pulsante, mas muitas vezes relegado às notícias eivadas de preconceito
social e de classe. A escrita de Lilia Guerra nos mostra justamente o lado de dentro dessa história, com grande engenho narrativo.

É entre Fim-do-Mundo e um lar de classe média, onde mora sua patroa, que a narradora, Sá Narinha, desenrola sua vida. Uma trajetória rica, turbinada por uma consciência interior plena (“Eu penso demais. Demais”, diz a certa altura) e uma sociabilidade exuberante — principalmente em sua quebrada, onde conhece a todos e é estimada pela maior parte dos habitantes, que acompanha do berço ao túmulo.

O filho da narradora está preso por, numa crise tenebrosa de ciúme, ter tentado assassinar a esposa (que ficou em estado vegetativo). Na ausência dele, ela se converte — por uma carência que não é só sua, aliás — numa espécie de segunda mãe do filho da patroa. Essa aproximação renderá bons frutos, e não apenas na esfera dos afetos maternais. O desenlace da relação promete transformar as vidas de Fim-do-Mundo.

Lilia Guerra nasceu em São Paulo em 1976. É autora de Perifobia, Rua do larguinho e Amor avenida, entre outros livros. Trabalha como auxiliar de enfermagem na capital paulista.

Deslumbramento

Richard Powers

FOTO: DIVULGAÇÃO.

Deslumbramento é uma narrativa densa em que o autor Richard Powers apresenta um romance íntimo e comovente. Ao retratar pai e filho em busca de refúgio num mundo em crise, este é um livro poderoso que nos leva a questionar o lugar que ocupamos no universo e a reconsiderar nossa relação com a natureza. No cerne desta história, ressoa a inquietante (e urgente) indagação: como podemos contar aos nossos filhos a verdade sobre o futuro do planeta?

Theo Byrne é um astrobiólogo que busca por formas de vida dispersas no universo. Ele também é o pai de Robin, um menino peculiar de nove anos de idade, de quem passa a cuidar sozinho após a morte da esposa. Robin é amoroso, engraçado e um futuro ambientalista cheio de planos. Apesar disso, tem episódios explosivos, quando se entrega a surtos de raiva, e está prestes a ser expulso do colégio após golpear o rosto de um colega com uma garrafa térmica.

Numa tentativa de lidar com o temperamento do filho, Theo leva Robin para acampar em meio às montanhas e inventa narrativas de aventura pelo cosmos, nas quais os dois exploram planetas e tentam desvendar o mistério da origem da vida. Quando Theo é encurralado pela direção da escola e se vê enfim obrigado a encontrar ajuda para o filho, ele recebe com ceticismo os diagnósticos imprecisos dos médicos, que recomendam medicamentos distintos, intervenções contraditórias… À medida que os problemas de Robin se agravam — e em busca de uma solução que não envolva submeter o filho a drogas psicoativas —, Theo decide arriscar uma terapia experimental digna de histórias de ficção científica: o neurofeedback.

Por meio desse método de tratamento, usado para fortalecer o controle das emoções, o pequeno Robin executa treinos neurais com base em padrões de comportamento e acaba por desenvolver uma conexão inesperada com a memória de sua falecida mãe, Alyssa. Após algumas sessões, os resultados positivos são assombrosos, porém o caos político e climático do planeta ameaça colocar tudo a perder.

Richard Powers nasceu em Illinois, em 1957. Considerado um dos grandes autores da atualidade, publicou treze romances. Com The Overstory, lançado em 2018, ganhou o prêmio Pulitzer de Ficção. Vive nas Great Smoky Mountains, nos Estados Unidos.

Dementia 21 Vol. 2

Shintaro Kago

FOTO: DIVULGAÇÃO.

Neste segundo volume, quebrando as paredes da tradição, do comedimento e do bom-gosto, Shintaro Kago parte de situações blasfemas e doentias para investigar o consumismo, o abandono, a paranoia, a família e a política. Dementia 21 é um passeio pela mente de um dos artistas mais originais da história dos mangás, e um caleidoscópio de horror e graça que jamais para de surpreender. Ao explorar os cantos mais obscuros da cultura de um país, o autor revela o que há de insano e divertido onde nunca nos preocupamos em olhar.

Uma onda de crimes assola Tóquio. Nas prisões, centenas de velhinhos condenados por furto entopem as celas em busca de comida grátis e calefação. Diante do perigo dos chamados “crimidosos”, o governo lança medidas para proteger a população. Quando as coisas saem de controle, mais uma vez caberá a Yukie Sakai salvar a todos do iminente colapso da civilização.

Com sua dedicação inabalável, Sakai está sempre pronta para ajudar. É ela quem irá amparar o idoso que, a cada Ano Novo, é perseguido por uma centena de netinhos em busca de seus presentes. Ou salvar a cidade de um Papai Noel demente que vem presenteando as crianças com brinquedos adultos e animais mortos. Ou ainda convencer a senhora internada em um asilo de que os enfermeiros zumbis não se alimentam de carne idosa.

Sakai é a cuidadora que já protagonizou o primeiro volume de Dementia 21, obra-prima do ero guro nansensu, gênero de mangá que usa o humor e o grotesco para criticar a sociedade japonesa. Quebrando as paredes da tradição, do comedimento e do bom-gosto, o autor Shintaro Kago escancara as contradições da cultura japonesa e se vale do absurdo para fazer troça de conceitos como respeito e tradição.

Shintaro Kago nasceu em 1969 em Tóquio. “O artista bizarro do mangá” é conhecido por seu trabalho que combina humor, erotismo, escatologia e surrealismo. Lançou seu primeiro quadrinho em 1988 e desde então vem publicando histórias em revistas e livros.

Sair da versão mobile