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COMO SOBREVIVER AO AGORA: uma reflexão entre Divertida Mente e Filosofia

Divertida Mente 2 - Foto: Divulgação

Texto de Antonio Djalma Braga Junior e Leonardo Origuela

Entre as mais variadas constatações que compõem uma conversa amigável entre vizinhos está aquela de que nunca estivemos tão desequilibrados emocionalmente. Poderíamos dizer que, de fato, encontramo-nos extremamente acelerados. Mas o fato de que isso seja tão visível se deve a algo ainda mais profundo: a dificuldade de se sentir o aqui e o agora. Entretanto, este não é um problema tão recentemente inventado.

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No pensamento budista, algumas tradições possuem suas práticas meditativas voltadas para a percepção sempre insistente do momento vivido. Na prática de zazen, por exemplo, que significa “sentar-se em meditação”, as orientações incluem não julgar os próprios pensamentos, concentrar-se na respiração, retornar ao aqui e agora sempre que os devaneios conduzirem para preocupações ulteriores. Outro caso é o que se pode observar pelo documentário de 2017, Caminhe Comigo (Walk with Me). Nele, o mestre Thich Nhat Hanh abre sua comunidade budista para que se possa mostrar a constante prática da atenção ao momento presente. Entre as cenas, destacam-se aquelas que, liturgicamente e a cada tempo, todos são surpreendidos pelo tocar de um sino, ao som do qual todos param por um instante seus afazeres e, onde estão, respiram e tomam consciência daquilo que vivem naquele momento.

Mais recentemente, nas telas dos cinemas, o filme Divertida Mente apresentou em roupagens animadas e divertidas oportunidades também de boas reflexões acerca disso. Se no primeiro filme se ressaltou a importância da personagem Tristeza como colaboradora da própria alegria, no segundo as novas personagens trouxeram à tona o vaivém constante que vivemos com nossas emoções. Destaca-se, claro, a personagem Ansiedade, que em uma de suas falas diz: à diferença do medo, que reage àquilo que é mais imediato e visível, ela, a ansiedade, reage às possibilidades daquilo que ainda pode acontecer, ou seja, do que ainda não se vivenciou.

Na filosofia, o dinamarquês Søren Kierkegaard se propõe a refletir sobre a angústia em termos bastante semelhantes. Em sua obra O Conceito de Angústia, de 1844, o filósofo afirma a angústia como um medo desfocado, ou seja, que não olha para aqui e agora, mas se projeta e fixa sua atenção em um futuro ainda não efetivado. Entretanto, não se pode deixar de conceder à mesma angústia a sua importância.

Considerado como o primeiro entre os filósofos que se ocupam da existência ou existencialismo, Kierkegaard tem como pano de fundo o sentido mais radical da palavra ex-sistência. O homem lançado, projetado no mundo, precisa lidar com suas próprias emoções e aceitar com cordialidade a própria angústia que, segundo ele, é uma oportunidade de salvação, na medida em que apresenta as possibilidades de ser. Entre essas possibilidades e no uso de sua liberdade é que o homem pode se decidir.

O que tanto Kierkegaard como o filme Divertida Mente nos parecem afirmar é que a ansiedade-angústia é uma emoção da qual não podemos nos livrar. E, no extremo, que a maior angústia seria que um dia a própria angústia viesse a faltar, como séculos mais tarde Lacan proporá no âmbito da psicanálise.

O que as tradições meditativas, a filosofia e agora o cinema podem nos ensinar é que podemos lidar respeitosamente com nossas emoções. Isso inclui contar com aquelas emoções tão depreciadas pela sociedade do consumo e da Happycracia, que nos faz perseguir constantemente uma felicidade que jamais alcançaremos.

Afirmar a vida é afirmar as próprias emoções. O amor fati, ou o amor ao destino, como propõe Nietzsche, passa justamente por um grande sim à vida, ou seja, ao conflito das próprias emoções, aos arranjos e desarranjos mentais, aos sabores e dissabores que cada qual vivencia em sua experiência de mundo.

Finalmente, antes do julgamento das emoções cabe, primeiro, a aceitação de que todos as temos em nós, em maiores ou menores manifestações. Depois, compreender-se como ser que vive e, como tal, não se encontra em um estado de beatitude, livre dos desejos e da falta. Isso não significa, porém, alcançar uma espécie de ausência das perturbações, mas de uma convivência respeitosa com aquilo que se sente, sem tecer julgamentos que pesem sobre si e sobre o modo de sentir a própria vida. Seja sentado, em pé, caminhando, ao som de sinos ou músicas de um estilo preferido, o mais importante é significar o tempo presente e sentir, sem ceder à tentação de negar toda a potência emotiva da vida.


*Antonio Djalma Braga Junior, filósofo e historiador. Doutor pela UFPR. É Professor Universitário, Diretor do Instituto de Tecnologia e Inovação Cidade Smart, fundador da Planejando Sonhos e Consultor na área educacional.

* Leonardo Origuela, filósofo. Atualmente é mestrando em Filosofia pelo Programa de Pós-graduação em Filosofia da PUCPR. Graduado em Filosofia e pesquisador do pensamento de Friedrich Nietzsche.

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