
Uma obra que se aprofunda nas complexidades do sistema prisional, não apenas sob a ótica física das celas, mas, principalmente, das “prisões” que se instalam na mente de quem vive e trabalha no sistema prisional. Essa é a proposta do livro “Cadeados mentais: a prisão nossa de cada dia”, da policial penal Fabiana Polli, que será lançado pela Artêra editorial, selo da editora Appris, no dia 11 de julho, às 19h, na Livraria da Vila, no shopping Pátio Batel, em Curitiba.
Com 17 anos de experiência no sistema penitenciário do Paraná, a autora mescla histórias reais e ficcionais para contar a rotina de viver a constante sensação da metáfora “panela de pressão”. No sistema penal ela está sempre ligada e ilustra a tensão e as explosões inesperadas. “Na cadeia, a panela de pressão está na maioria das vezes em fogo baixo. Você quase nem escuta o barulho, mas eventualmente ela começa a ferver rapidamente. E, quando se percebe, é tarde demais, e você só escuta a explosão”, descreve a autora. As rebeliões são citadas como as crises mais marcantes vivenciadas no sistema penitenciário.
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“Cadeados Mentais” mostra a prisionização com a rotina do trabalho e seus impactos entre profissionais do sistema penitenciário. A autora explica que é inerente a eles e molda suas ações de forma muitas vezes imperceptível. “Nossa mente, muitas vezes, fica associada ao trabalho, ao que aconteceu e ao que acontecerá. Literalmente, nos sentimos presos em nossos pensamentos e, não raras vezes, o medo nos consome, dentro e fora da prisão”, conta.
O livro traz episódios contados pelos “antigões” (agente mais antigos) que são reflexos desses “cadeados mentais”. São casos como de um detento que se enforcou em árvore e outro que foi “estocado” (nome atribuído a uma arma improvisada) em dia de Natal mais de 30 vezes e fuga de prisão de segurança máxima de dois presos, com detalhe que um deles, o “Poca Vista”, era deficiente visual. O livro aborda também temas como a fragilidade dos direitos humanos na prisão e apresenta sugestões para profissionais buscarem ajuda e tentar romper com os “cadeados mentais”.
Imagem: Divulgação
Com passagens como vice-diretora de penitenciária, a autora enfatiza a necessidade de políticas públicas que priorizem a segurança e o tratamento penal, além da detecção do perfil da pessoa privada de liberdade. Fabiana defende a criação de uma cultura de direitos humanos que seja ampla, incluindo a proteção de quem cuida e a participação dos servidores na elaboração de normativas e políticas públicas. “Quem lá se encontra diariamente não pode ficar de fora dessas discussões. Fazer parte é o primeiro passo para compreensão e posterior implementação de uma prática eficaz e duradoura, indistintamente”, pontua Fabiana, que é instrutora da Escola de Formação e Aperfeiçoamento Penitenciário há mais de dez anos, sendo uma das primeiras policiais penais a ministrar a disciplina de Direitos Humanos na instituição. Atualmente atua no setor de segurança do Departamento de Polícia Penal do Estado do Paraná (Deppen), e realiza palestras voluntárias sobre o sistema prisional, especialmente, para estudantes em escolas estaduais e municipais do Paraná.
Sobre a Autora:
Formada em Direito, especialista em Direito Penal e Processual Penal, trabalhou na Penitenciária Feminina do Paraná, a maior unidade feminina do Estado; na Penitenciária Estadual de Piraquara, que abriga os presos mais perigosos do estado. Fez parte da primeira turma do Grupo de Intervenção Prisional do Departamento de Polícia Penal do Paraná, o Setor de Operações Especiais. Participou da criação e gestão do Centro de Integração Social – Unidade de Progressão, referência em tratamento penal no país. Foi também vice-diretora da Penitenciária Feminina do Paraná e trabalhou na Diretoria de Segurança Penitenciária. É instrutora da Escola de Formação e Aperfeiçoamento, além de Vigilância e Custódia, Abordagem Psicossocial da Violência e Gerenciamento de Crises.
Foto: Bárbara Brasileiro