Diário de Curitiba

Ionesco volta às livrarias com novas edições de A cantora careca e Vítimas do dever

Duas das peças mais emblemáticas de Eugène Ionesco, A cantora careca e Vítimas do dever, ganham novas edições no Brasil em agosto. Com essas publicações, a Temporal encerra a coleção iniciada em 2023, que já havia trazido Macbett, releitura cômico-trágica de Macbeth, de Shakespeare.

Reconhecido como uma das principais referências do teatro do absurdo — termo cunhado por Martin Esslin —, Ionesco rompeu com convenções dramáticas ao transformar o cotidiano em paródia e a comunicação em ruído. Suas obras colocam em cena um universo de falas automatizadas, identidades fragmentadas e estruturas sociais em colapso.

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A cantora careca, escrita em 1948, foi a primeira peça do dramaturgo. O texto surgiu a partir de um exercício de aprendizado de inglês, quando Ionesco se deparou com o esvaziamento da linguagem cotidiana. A peça apresenta dois casais britânicos que dialogam por meio de frases feitas e repetições sem sentido, entre situações triviais e visitas inesperadas.

Ao contrário do que sugere seu título, não há nesta peça nenhuma cantora, e muito menos uma cantora careca. Esse nome surgiu durante um de seus ensaios, no momento em que um ator errou uma de suas falas: disse ‘cantora careca’ (cantatrice chauve) quando deveria ter dito ‘professora loira’ (institutrice blonde)”, explica Philippe Curimbaba Freitas, editor responsável pela edição brasileira, na seção “Sobre esta edição”.

Desde sua estreia, em 1950, a peça se consolidou como um dos principais marcos do teatro contemporâneo, permanecendo em cartaz desde 1957 no Théâtre de la Huchette, em Paris. A nova edição brasileira, com tradução e prefácio de Dirce Waltrick do Amarante, reúne também imagens da montagem mais recente realizada no Brasil, sugestões de leitura e uma cronologia da vida e obra do autor.

Destaques da edição de A cantora careca
? Tradução e prefácio de Dirce Waltrick do Amarante
? Texto com base na edição Gallimard de 1954, com notas explicativas
? Fichas técnicas das montagens de 1950, 1954 e 1957
? Cronologia de Ionesco por Gilles Ernst
? Fotografias da montagem do Grupo TAPA (2018)
? Sugestões de leitura

Vítimas do dever, escrita em 1952, é frequentemente apontada como a peça mais pessoal de Ionesco. Inspirada por memórias da infância e questionamentos existenciais, a trama parte de um enredo policial — um agente investiga o paradeiro de um homem chamado “Mallot com um t” — e se desdobra em uma narrativa labiríntica, em que identidade e realidade se tornam instáveis.

Mais do que um comentário sobre instituições sociais, a peça propõe um confronto com os limites da linguagem e da obediência. A edição brasileira conta com tradução e prefácio de Bruno Brandão Daniel, além de posfácio, comentários críticos e cronologia elaborados por Gilles Ernst, professor emérito da Universidade de Lorraine. O volume inclui ainda fotografias da montagem mais recente do texto, realizada em 2024, na Romênia.

Destaques da edição de Vítimas do dever
? Tradução e prefácio de Bruno Brandão Daniel
? Posfácio e comentários por Gilles Ernst
? Fichas técnicas das principais montagens
? Notas explicativas e ensaio crítico
? Fotografias da montagem romena de 2024
? Sugestões de leitura

Com o encerramento da coleção, a Temporal reúne em língua portuguesa três obras centrais da dramaturgia de Ionesco. Ao lado de nomes como Samuel Beckett, Jean Genet e Fernando Arrabal, o autor moldou um novo paradigma teatral no pós-guerra, em que o absurdo não representa apenas uma estética, mas uma crítica radical à razão moderna, à linguagem e à identidade.

A cantora careca e Vítimas do dever reafirmam a relevância de Ionesco no cenário contemporâneo e ampliam o acesso do público brasileiro a uma obra que, mesmo após décadas, permanece inquietante e atual.

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