A importância da espiritualidade na formação em saúde vem sendo discutida de forma constante na área da educação médica, com evidências apontando para a necessidade dessa abordagem e apoio de diversas organizações, instituições e associações acadêmicas. Estudos cada vez mais consistentes comprovam que espiritualidade e fé podem ser grandes aliadas na prevenção de doenças e na recuperação clínica.
Recentemente, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceram a importância da espiritualidade no cuidado com o paciente, tema que já integra a grade curricular dos alunos do curso de Medicina da FACERES, em São José do Rio Preto (SP).
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Segundo o CFM, pesquisas indicam que a religiosidade está associada a benefícios concretos como menor incidência de infartos e risco até seis vezes menor de morte por suicídio entre pacientes religiosos. Já a OMS reconhece a espiritualidade como parte essencial da saúde integral, ao lado dos aspectos físico, mental e social. Para a organização, alcançar o bem-estar significa promover uma vida plena que inclua dimensões espirituais, fundamentais para enfrentar desafios e fortalecer a resiliência dos pacientes.
De acordo com um artigo publicado na BioMed Central (BMC) por Giancarlo Lucchetti, 90% das escolas de medicina nos Estados Unidos oferecem disciplinas relacionadas à espiritualidade, enquanto no Brasil, apenas cerca de 10% das instituições incluem esse conteúdo no currículo.
A Faculdade de Medicina FACERES oferece desde 2016 a disciplina “Cuidados Paliativos”, no sexto semestre do curso. A matéria aborda desde questões éticas complexas, como eutanásia, ortotanásia e distanásia, até a comunicação empática com pacientes em sofrimento, além de estratégias para identificar o sofrimento espiritual.
“No atendimento médico, o cuidado vai além dos sintomas físicos. O paciente precisa ser compreendido em sua totalidade. A espiritualidade influencia diretamente a saúde mental e física, podendo afetar até a imunidade”, ressalta a médica paliativista e professora da disciplina, Dra. Patrícia Cury (CRM 65394).
A estudante Kauana Prevital, da 21ª turma, diz que esse aprendizado amplia o olhar sobre o paciente. “O ser humano deve ser tratado em quatro aspectos: biológico, psicológico, social e espiritual. Essa conduta nos prepara para atender de forma mais completa e acolhedora.”
“Tratamos nas aulas a importância da espiritualidade na saúde, a diferença entre religiosidade e espiritualidade, como realizar uma anamnese espiritual e como cuidar do sofrimento espiritual em suas diversas dimensões. Não há menção a práticas religiosas específicas, apenas a fé, espiritualidade e religiosidade de forma acadêmica e humanizada”, explica Dra. Patrícia.
O colega de turma, Luiz Eduardo Silva Mendes, concorda e reforça a importância da aula para lidar com situações difíceis desde cedo. “Isso será essencial na prática médica, quando estivermos diante de pacientes em sofrimento e precisarmos oferecer cuidado com humanidade.”
Além da disciplina, a faculdade desenvolve projetos de extensão como o FIRE FACERES, um movimento universitário que promove o equilíbrio entre a vida acadêmica e a espiritualidade.
A coordenadora de extensão, Fernanda Novelli Sanfelice, destaca que os encontros estimulam reflexão, apoio mútuo e crescimento pessoal dos estudantes. “Diante de um diagnóstico difícil, muitos pacientes recorrem à fé. Isso precisa ser respeitado e valorizado. A ciência e a espiritualidade não são excludentes, elas podem caminhar juntas para oferecer um cuidado mais completo”, finaliza Fernanda.