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Eritroblastose fetal exige abordagem precoce

A eritroblastose fetal, também conhecida como doença hemolítica perinatal, é uma complicação rara, mas potencialmente grave, que pode ocorrer durante a gestação quando há incompatibilidade sanguínea entre mãe e feto — geralmente envolvendo o fator Rh.

Esse processo imunológico pode levar à destruição das hemácias do bebê, causando anemia grave, icterícia, hidropisia fetal (acúmulo excessivo de líquido em pelo menos dois espaços do corpo do feto, como abdômen, pulmões, coração ou sob a pele, causando inchaço) e, em casos mais severos, até óbito intrauterino ou neonatal.

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Segundo o Prof. Dr. Rodrigo Ruano, médico e cirurgião materno-fetal, a condição é evitável e tratável quando diagnosticada a tempo. “A eritroblastose fetal é uma condição séria, mas que pode ser identificada e controlada com o devido acompanhamento. A chave está na prevenção e no diagnóstico precoce, ainda no pré-natal”, afirma.

Ele ainda explica que doença geralmente ocorre quando uma mãe Rh-negativa entra em contato com sangue Rh-positivo do feto, o que pode sensibilizá-la e fazer com que seu sistema imunológico produza anticorpos contra as hemácias do bebê em gestações futuras. “Essa sensibilização pode acontecer durante o parto, em abortos espontâneos, procedimentos invasivos como amniocentese (exame pré-natal invasivo que envolve a coleta de uma amostra do líquido amniótico, o que envolve o feto no útero, para análise) ou mesmo pequenos sangramentos transplacentários”, diz. 

O rastreamento da eritroblastose fetal começa com um exame simples de tipagem sanguínea e pesquisa de anticorpos logo nas primeiras semanas de gestação. Em casos de risco, o acompanhamento é feito por meio de exames sorológicos seriados e ultrassonografia com doppler do cérebro fetal, que permite avaliar sinais precoces de anemia. “Com o avanço da medicina fetal, conseguimos identificar alterações no fluxo sanguíneo cerebral que indicam anemia antes mesmo de qualquer manifestação clínica. Isso nos permite intervir com segurança, quando necessário”, explica Ruano.

Quando há risco confirmado de anemia fetal moderada a grave, o tratamento pode incluir transfusões intrauterinas de sangue, feitas ainda durante a gestação, geralmente a partir da 20ª semana. O procedimento, realizado em centros especializados, pode ser repetido a cada duas a três semanas até que o bebê esteja suficientemente maduro para nascer em segurança. “As transfusões intrauterinas salvaram a vida de inúmeros bebês que, há algumas décadas, não teriam chance de sobreviver. É uma técnica sofisticada, que exige precisão, mas que tem excelentes resultados quando bem indicada”, destaca o médico.

Apesar dos recursos terapêuticos avançados, a melhor abordagem ainda é a prevenção. Para isso, administra-se a imunoglobulina anti-Rh (RhIg) em gestantes Rh-negativas durante a 28ª semana de gestação e até 72 horas após o parto ou qualquer situação que envolva sangramento. Esse protocolo reduz drasticamente as chances de sensibilização materna. “Com a aplicação correta da imunoglobulina, conseguimos reduzir significativamente a incidência da eritroblastose fetal. Mas é fundamental que todas as gestantes tenham acesso ao exame de tipagem sanguínea e sigam com um pré-natal de qualidade”, reforça o cirurgião.

Ainda segundo o especialista, a eritroblastose fetal, que já foi uma das principais causas de mortalidade neonatal, hoje é amplamente controlável. A atuação integrada entre obstetra, especialista em medicina fetal e neonatologista é essencial para garantir o melhor desfecho para mãe e bebê. “Nosso papel é oferecer às famílias a tranquilidade de que, mesmo diante de uma complicação como essa, existem caminhos seguros, éticos e eficazes de cuidado. A medicina fetal tem avançado para salvar vidas ainda dentro do útero. E isso é extraordinário”, finaliza o especialista.

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