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Vaga Lume celebra voluntários que transformam a Amazônia

Nas comunidades amazônicas, onde muitas vezes o acesso aos livros ainda é um desafio, o trabalho voluntário é um fio que conecta sonhos e transformações. No dia 5 de dezembro, quando o mundo celebra o Dia Internacional do Voluntário, a Vaga Lume homenageia a força de quase 800 pessoas que fazem da leitura uma ponte entre gerações e um caminho de fortalecimento e pertencimento para centenas de crianças e adolescentes que moram em comunidades rurais, ribeirinhas, beiradeiras, quilombolas e indígenas da Amazônia Legal.

Desde 2001, a Vaga Lume leva uma rede de bibliotecas, comunitárias administradas e cuidadas por voluntários locais como educadores, estudantes, lideranças, entre outros, que atuam em 97 comunidades de 23 municípios localizados ao longo dos nove estados da Amazônia Legal. Em 2024, segundo levantamento da própria organização, esse grupo dedicou mais de 140 mil horas de trabalho para garantir que o acesso ao livro e à leitura chegasse até os territórios mais distantes da região Norte.

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Entre essas histórias está a de Débora Fernanda Mafra Fonseca, de 18 anos, moradora da Comunidade Quilombola Bom Viver, em Mirinzal (MA). Hoje estudante de Direito, ela encontrou ainda na infância, em uma biblioteca da Vaga Lume, um espaço de acolhimento e descobertas. “A biblioteca foi um divisor de águas na nossa comunidade. Além de um espaço de leitura, passou a ser um espaço de manifestação cultural”, lembra. “Um dos livros que mais me marcou foi ‘Tudo Bem Ser Diferente’, porque fala sobre inclusão e respeito, temas pouco discutidos na época.”

A jovem aprendeu a ler aos três anos e, desde então, nunca mais se afastou dos livros. Hoje, é voluntária da Vaga Lume e ajuda a manter viva a biblioteca que inspirou seus primeiros passos. “A leitura foi o que abriu meus horizontes e me mostrou que era possível sonhar mais alto”, afirma. Participar do projeto de resgate das histórias da própria comunidade, transformadas em livros artesanais, foi uma das experiências mais marcantes de sua vida. “Esse processo me ajudou muito a me reconectar com a nossa história e tradições, e também a me autodefinir enquanto quilombola. Foi um aprendizado profundo, que me deu orgulho da minha identidade e da minha comunidade”.

Para ela, ser voluntária na biblioteca onde teve seu primeiro contato com os livros e a leitura é também uma forma de retribuir e expressar carinho pela sua comunidade. “Crescer com acesso à leitura é completamente diferente de nascer em um contexto sem livros. Quando isso acontece, a gente não transforma só aquela criança, mas também a família e o entorno.”

A trajetória de Débora reflete o espírito dos voluntários que formam a rede da Vaga Lume, presente em nove estados da Amazônia Legal. Em 2024, essas pessoas dedicaram mais de 140 mil horas de trabalho às bibliotecas comunitárias mantidas pela organização. São elas que garantem que os livros circulem, que as histórias continuem sendo contadas e que os conhecimentos, tradições e culturas locais permaneçam vivos, mesmo nos locais mais remotos.

“Desde sua fundação, em 2001, a Vaga Lume já distribuiu mais de 195 mil livros, formou 6 mil mediadores de leitura e impactou 111 mil crianças e jovens em toda a Amazônia Legal. A cada leitura compartilhada, essa legião de voluntários reafirma a convicção de que a leitura é também cidadania, identidade e futuro, e que transformar o mundo pode começar com um livro aberto em uma pequena biblioteca comunitária”, diz Felipe Cincinato, Coordenador de Comunicação da Vaga Lume.

Essa rede diversa e comprometida é o que sustenta a atuação da Vaga Lume na Amazônia. Formada majoritariamente por mulheres (76%), com média de 37 anos de idade, ela representa uma ampla teia de saberes e experiências que se cruzam nas bibliotecas comunitárias. Quase metade dos participantes (48%) tem ligação direta com as escolas locais — professores, estudantes e profissionais da educação —, o que reforça a integração entre o aprendizado formal e o conhecimento tradicional das comunidades.

“Os voluntários da Vaga Lume representam o elo entre cultura, leitura e pertencimento. Se hoje estes espaços de leitura realizam mais de 50 mil empréstimos de livros todos os anos, é porque existe uma rede de pessoas que transformaram essas bibliotecas em espaços de valorização de suas identidades e de resistência coletiva, mesmo em contextos sociais desafiadores. Celebrar o Dia do Voluntário é reconhecer o impacto silencioso e profundo dessas histórias de transformação”, finaliza Cincinato. 

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