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Sinta o MEDO e aja assim mesmo.

Por Paulo Dalla Stella

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Desconfie de qualquer texto que lhe aconselhe a lutar contra o medo e finalmente elimina-lo totalmente de sua vida. Não acredite neste tipo de informação simplesmente por que não lhe será útil. Primeiramente porque o medo faz parte de sermos humanos, é tão intrínseco à nossa natureza como termos a necessidade de comer, fazer amor ou ir ao banheiro. Não se elimina algo que faz parte de nós e que em segundo e importante lugar nos auxilia. Sim, o medo nos ajuda em nossa sobrevivência. Em tempos primordiais, quando ainda vivíamos em cavernas e lidávamos com perigos reais, quando qualquer barulhinho vindo do arbusto próximo poderia ser de um animal perigoso que nos faria de caça, o medo era o sinal de alerta que precisávamos para garantir que continuaríamos vivos. Hoje em dia, não precisamos mais ter medo de um tigre dente de sabre à espreita na esquina esperando para nos atacar, mas ainda temos em nosso cérebro as mesmas reações ao medo quando “sentimos” que estamos sendo ameaçados, seja lá pelo que for, por coisas reais, pela nossa imaginação de coisas que a tornamos reais ou pelo pavor de não sermos capazes de lidar com situações difíceis, quase que como ter medo de ter medo.

A autora Susan Jeffers em seu já clássico livro “Feel the fear…  and do it anyway” algo como “Sinta o medo e aja assim mesmo”, divide os tipos de medo como estando em 3 níveis diferentes. O Nível 1, corresponde àqueles medos que temos de elementos externos a nós que poderão acontecer, tais como: Acidentes, doenças, ficarmos velhos e sozinhos no futuro, assaltos, ataques e violência de qualquer tipo ou o medo de coisas que requerem ação ao mundo externo, como tomar decisões arriscadas, falar em público (este, um clássico em si), aprender a dirigir ou qualquer coisa que, por medo, tentamos evitar ao máximo, principalmente se por conta de acontecimentos no passado, nos tornamos traumatizados.

O nível 2 do medo seriam aqueles relacionados a estados interiores da mente, como o medo de fracasso, de ser vulnerável, de ser rejeitado ou não reconhecido. Seria o medo criado muitas vezes por expectativas errôneas até, de algo que poderia acontecer e nos afetar psicologicamente. Inclui-se aí o medo de ser feito de bobo e se apaixonar, por exemplo. E finalmente, segundo Susan, o nível 3 seria uma combinação dos dois anteriores e seria o medo de não ser capaz de lidar com certos acontecimentos. O medo de se sentir perdido, de se ver paralisado diante de uma situação sem poder ao menos esboçar reação simplesmente por não sentirmos capazes de enfrentar e de termos ferramentas adequadas para lidar mesmo como situações, tanto do nível 1 quanto do nível 2. É o medo de nos tornarmos um grande fracasso, estarmos fadados ao desespero total por não termos a menor ideia de como sair da tal situação. Quem já não se sentiu assim? Quem nunca teve medo? Quem nunca pensou duas vezes antes de fazer algo por conta de uma experiência ruim ou frustrante no passado ou por conta de uma expectativa falsa sobre o futuro? Quem nunca precisou sentar, respirar fundo, parar tudo e examinar com calma a razão do medo pra tentar entender em primeiro lugar, se ele faz sentido, se é real, e se for, como lidar com isso?

A filosofia do estoicismo, já comentada em artigo anteriormente têm uma tática milenar para lidar com a questão do medo. Em primeiro lugar, se o seu medo é direcionado a algo sobre o qual você não tem o menor controle, não lute! Aceite e aprenda e cresça com a experiência. Pense na pior das situações que poderia acontecer caso o seu motivo de medo viesse de fato a se desdobrar em sua vida. Pense por exemplo na pior das consequências caso você venha a contrair COVID. Qual seria? Morrer, certo? Então…  Os estóicos sempre foram por isso criticados, mas eles sem dúvida diriam: Um dia irei morrer mesmo, jamais poderei evitar isso, então a morte servirá para me tornar mais forte e conhecedor da vida e do mundo e será por isso o destino final de todo este conhecimento. Aceitarei a em minha vida, pois não há uma vida no universo, que dure pra sempre. Nada é pra sempre, nem eu. Pra que ter medo?

Embora difícil de entender e muito filosófica, a ideia do estoicismo está por trás de terapias modernas como a Terapia Cognitiva Comportamental, por exemplo, que por meio de perguntas, você mesmo ou seu cliente seria guiado para a fonte de tudo que criou seu medo que tanto te paralisou e continua atrapalhando sua vida. Voltando lá no trabalho de Susan Jeffers, qual seria maneira mais fácil de se lidar com este inevitável sentimento sobre coisas as vezes inevitáveis na vida?

Como o medo de não saber lidar com as coisas que te dão medo é o que faz isso maior do que realmente é, o que faríamos se fôssemos capazes de lidar com todos esses nossos medos? Conforme falamos acima, pessoas não aprendem a eliminar seus medos e sim a lidar com o que os causa e é isso que muitas vezes diferencia aquelas pessoas de sucesso das que se perdem na vida em fracassos anunciados. A questão então passa a ser saber enfrentar o medo, o “olhando nos olhos” em analogia bem direta e fazendo exatamente aquilo sobre o qual você mais teme. Parece fácil e solução simplista demais, mas é assim que funciona. O medo de enfrentar e fazer aquilo ao qual se tem medo é desproporcionalmente muito maior do que a coisa em si. Desta forma, a única forma de se entender isso é em fazendo o que você muitas vezes “acha” que não conseguirá fazer e ignorar por completo aquilo sobre a qual você não poderia de qualquer forma evitar. Ter medo de ficar velho e morrer, por exemplo, resolverá essas questões? Claro que não! O que “resolverá” é absorver a realidade das coisas, encara-las de frente pois é o único ângulo de ação racionalmente possível diante daquilo que você teme. Desta forma, aprendendo a lidar com o medo, apesar de não o eliminar de vez, o que é natural, você irá doma-lo, que é como se fosse elimina-lo mesmo, pois aquilo que não mais te incomoda verdadeiramente morreu pra você. O maior medo de todos é o medo de não ter controle sobre as coisas ou sobre a própria vida, certo? Então entenda profundamente que não cabe a nós humanos dentro desta existência breve, fazer sentido de tudo. Medo portanto, não se elimina. Medo se encara, se aprende, se cresce com e tem seu lugar sim no esquema das coisas. Relaxe. Sinta medo e faça assim mesmo o que tiver que fazer. Medo, todo mundo tem, coragem pode ser desenvolvida. Comece por conhecer melhor a si mesmo e verá que as causas de seus medos nem eram tão reais assim. Enfim, seja cool.

Foto: Getty Images
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