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Quem não é visto, não é lembrado

Texto de Fernando Ringel

Muita gente não gosta de assistir ao horário eleitoral. Dizem que é artificial, chato. Imagine, então, como deve ser para quem passa a vida tendo que sorrir ou ficar triste exatamente na hora certa. A política muda de país para país, mas a novela da opinião pública passa sempre em jornal, rádio e TV. Na Inglaterra, por exemplo, o último capítulo teve a morte da Rainha Elizabeth II. Saiu de cena o Príncipe Charles e surgiu o Rei Charles III. Sério, sem choro, lendo um discurso provavelmente escrito por outra pessoa. E mesmo nesse mundo encantado, cheio de assessores, nem tudo é um conto de fadas: tem problema familiar nos jornais, Brexit, mudança de primeiro-ministro, além de casos como o de Antigua e Barbuda, ilha no Caribe, que nem esperou o funeral para começar a debater sua independência. Isso, sem falar em rancores históricos, como na Argentina, onde teve apresentador comemorando na televisão “a morte da velha de m…”.

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Por aqui, também existe Família Real, mas é diferente: para um membro da realeza influenciar na política brasileira, só sendo eleito. Aliás, como é o caso do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-RJ), o primeiro a assumir um cargo político de relevância desde a proclamação da República, em 1889.

“BRASIL ESTÁ CONTINUANDO A ME SURPREENDER”

Cheia de sotaque, foi assim que a russa, Olga Kovalenko, começou o seu vídeo “Gringa se surpreende com debate presidencial no Brasil”, que já tem 30 mil curtidas. No YouTube, ela conta como foi assistir TV no último dia 28: “No domingo, aconteceram os debates. E sabe o que mais me surpreendeu com isso? É que vocês têm debates para escolher o presidente! Tem candidatos e eles falam um com o outro. Até fazem perguntas!! E tudo isso, ao vivo!!!”. Segundo ela, na Rússia só alguns partidos têm propaganda nos intervalos comerciais e nada de debate.

Por aqui, o horário eleitoral foi criado para deixar a disputa mais igualitária e vem sendo aperfeiçoado com o tempo. Este ano, vai até 29 de setembro, deixando muito programador de rádio e TV maluco porque cada partido tem sua data, horário e um erro pode acabar em multa. É candidato de todo tipo, desde o lutador de MMA, Wanderley Silva (PP-PR), subcelebridades como o ator pornográfico, Kid Bengala (UNIÃO-SP), até os desconhecidos que fazem de tudo para chamar a atenção: tem Mãe Mary De Xangô (MDB-SE), Gabigol da Torcida (PTB-RJ) e Velho Barreiro (PTB-MG). Apenas para citar três exemplos de como, além de sua função democrática, o horário eleitoral acaba sendo divertido.

Para quem realmente corre por fora, haja criatividade para influenciar de alguma forma a opinião pública. Há quem venceria fácil para… melhor jingle político, como prova o clássico “Ey-ey-Eymael, um democrata cristão”. Isso para não citar o maior de todos, que precisou de poucos segundos em rádio e TV para ser o terceiro colocado nas eleições de 1994. Qual o seu nome? “Meu nome é Eneias”!

Fernando Ringel é redator e professor universitário.

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