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A Necessidade da Ressocialização dos Detentos: Um Caminho para Uma Sociedade Mais Segura

O sistema penitenciário brasileiro enfrenta desafios complexos e profundamente enraizados, que vão desde a superlotação até a falta de políticas efetivas de ressocialização. Apesar disso, uma verdade permanece incontestável: a maioria dos detentos retornará à sociedade em algum momento. Seja em poucos meses ou após décadas, o retorno é uma certeza que exige reflexão sobre como os presídios devem atuar na preparação desses indivíduos para a reintegração social.

Atualmente, o sistema carcerário brasileiro opera como uma máquina de exclusão social. Dados do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) indicam que cerca de 60% dos egressos do sistema penitenciário voltam a cometer crimes, reforçando o ciclo de reincidência. Esse índice alarmante é reflexo de um sistema que prioriza a punição em detrimento da educação, da profissionalização e do apoio psicossocial.

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A ressocialização de detentos não é apenas uma questão de direito, mas também uma necessidade prática. Indivíduos que deixam o sistema penitenciário sem suporte ou perspectivas enfrentam dificuldades extremas para reconstruir suas vidas. A falta de oportunidades de trabalho, o preconceito social e a ausência de um sistema de apoio tornam quase impossível o rompimento com a vida de criminalidade.

Ao mesmo tempo, a sociedade como um todo sofre as consequências dessa falha estrutural. Detentos que não passam por programas de ressocialização muitas vezes retornam às ruas mais violentos e mais alienados, representando um risco maior para a segurança pública. Investir em ressocialização não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia eficaz de prevenção ao crime.

Programas de educação e capacitação profissional dentro das prisões são ferramentas poderosas para transformar a realidade dos detentos. Estudos mostram que a educação diminui significativamente a reincidência. Um levantamento realizado pela Fundação Oswaldo Cruz apontou que detentos que participam de programas educacionais dentro do sistema carcerário têm até 50% menos chances de voltar a cometer crimes.

No entanto, a realidade mostra que esses programas ainda são insuficientes. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), apenas cerca de 12% dos detentos no Brasil têm acesso a algum tipo de educação ou treinamento. A falta de infraestrutura e o baixo investimento governamental comprometem a expansão dessas iniciativas.

Outro aspecto crucial é o apoio psicossocial. Muitos detentos enfrentam traumas profundos, transtornos psicológicos e dependência química, fatores que dificultam sua reintegração. O acesso a acompanhamento psicológico e terapêutico é essencial para romper ciclos de violência e promover a saúde mental dos apenados.

A capacitação profissional é outra peça fundamental no quebra-cabeça da ressocialização. Oferecer cursos técnicos e práticos, que preparem os detentos para o mercado de trabalho, é uma forma de assegurar que eles possam reconstruir suas vidas de maneira digna e autônoma. Empresas que se engajam em programas de contratação de egressos também desempenham um papel importante, ajudando a reduzir o estigma e criar oportunidades reais de transformação.

Para que a ressocialização seja efetiva, é necessário um compromisso coletivo. Governos precisam investir mais em programas de educação, saúde e profissionalização. Organizações da sociedade civil têm um papel essencial no desenvolvimento de projetos e no acompanhamento dos egressos. A sociedade, por sua vez, deve repensar o preconceito e a exclusão social, entendendo que a reintegração de detentos é uma questão que afeta a todos.

Outro ponto a ser destacado é a necessidade de reformar o sistema penitenciário como um todo. O modelo atual, baseado majoritariamente em isolamento e punição, tem se mostrado ineficaz para promover mudanças reais. Países como Noruega e Holanda, que adotam sistemas focados na humanização e na educação dos presos, apresentam índices de reincidência consideravelmente menores. Esses exemplos mostram que é possível pensar em um modelo de justiça que não se limite ao encarceramento, mas que vise à reconstrução social.

Ademais, é fundamental criar programas que acompanhem os detentos após o cumprimento da pena. O apoio no período de transição entre a prisão e a liberdade é decisivo para evitar recaídas. Egressos que contam com orientação, moradia e apoio financeiro temporário têm maiores chances de sucesso em sua reintegração.

É importante destacar que ressocialização não é sinônimo de impunidade. Muitos argumentam que investir na reabilitação de detentos seria “premiar” aqueles que cometeram crimes. Essa visão ignora o fato de que a punição e a reabilitação não são excludentes. Pelo contrário, elas devem coexistir em um sistema de justiça que busque tanto a responsabilização quanto a prevenção de novos delitos.

A ressocialização também é uma forma de economizar recursos públicos. O custo de manter um preso no sistema carcerário é muito maior do que o custo de investir em educação, saúde e capacitação. Reduzir a reincidência significa reduzir os gastos com o sistema penitenciário e com a segurança pública como um todo, além de promover um impacto positivo na economia.

Concluindo, a ressocialização dos detentos é uma necessidade urgente e uma responsabilidade coletiva. Ela não apenas beneficia os indivíduos diretamente envolvidos, mas também contribui para uma sociedade mais segura, justa e igualitária. Negligenciar esse aspecto é perpetuar um ciclo de violência e exclusão que prejudica a todos.

É hora de repensar o papel das prisões e investir em um modelo que realmente promova a reintegração social. Afinal, os detentos de hoje serão os cidadãos de amanhã. E o que queremos é uma sociedade em que todos tenham a oportunidade de reconstruir suas vidas e contribuir para o bem comum.

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