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Turbilhão

Hoje não tem pauta.
Ou melhor: hoje, tudo é pauta.

Mas não sei por onde começar. Abro o mundo pela tela e ele transborda. IOF, Congresso, STF. Israel, Gaza, Ucrânia. Frio em Curitiba, caos nos grupos, Davi de férias, WhatsApp fervendo, e eu debaixo da coberta, notebook no colo, tentando fazer sentido. Tentando ser útil. Tentando escrever.

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E é tanta coisa, tanta notícia, que a mente começa a girar sem freio. Parece que a gente deixou de viver as coisas e passou a ser atropelado por elas. A cada atualização, um mundo novo. A cada feed, um fim do mundo inédito. E eu só queria um café quente e um minuto de silêncio. Mas nem isso.

Hoje é um daqueles dias em que o jornalista está exaurido.
O cronista sem crônica.
O pai meio ausente, meio presente demais.
O homem com frio, por dentro e por fora.

Curitiba está gélida essa semana. Um tipo de frio que murcha os planos e silencia até os cachorros da rua. O céu parece de concreto. E mesmo com o dia um pouco mais quente hoje — uma quinta-feira de 3 de julho que parece segunda-feira eterna — tudo continua doendo um pouco mais do que devia.

Nesse estado, me rendi aos Reels.
Reels no Instagram, esse lugar onde a gente vai se perder para ver se se acha. E foi lá, entre um vídeo de bolo fofo e um meme político, que apareceu um corte da série The Chosen — aquela que conta, com cuidado poético e licença criativa, a história dos discípulos de Jesus.

Era João escrevendo o início do seu evangelho.
“Ele me amou”, ele diz em voz alta, rascunhando palavras e lembranças.
Maria, mãe de Jesus, que está por perto, interrompe com ternura:
“Ele amou a todos.”
E então olha para João e completa:
“Mas você sente a necessidade de dizer isso.”

E aquilo, não sei por que, me desmontou.
Chorei.
Chorei como há muito tempo não chorava.
Chorei como quem carrega uma pedra no peito há dias e, de repente, ela vira água.

Fiquei ali, imóvel, tentando entender o que era aquilo que me atravessava.
Não era só a cena. Nem só o João. Nem só a lembrança do evangelho.
Era tudo.
Era o frio acumulado da semana. A sobrecarga dos dias. O ruído do mundo lá fora e o silêncio que faltava aqui dentro.
Era esse cansaço que a gente aprende a chamar de rotina, mas que às vezes só quer explodir em forma de lágrima.
E explodiu.

Porque talvez seja isso.
Talvez a gente precise sentir que foi amado pessoalmente.
Não como parte de um coletivo. Não como dado estatístico. Não como cidadão, eleitor, contribuinte. Mas como pessoa. Nome e sobrenome. Dor e história.

E eu pensei no amor de Jesus, esse amor que é difícil de compreender — e mais ainda de aceitar. E pensei no amor que eu tenho pelo meu filho, esse menino que está agora aqui ao lado, me chamando de “papai”, me puxando pela mão, pedindo atenção num mundo que exige que eu esteja sempre atento a tudo — menos a ele.

E eu quero, mais que tudo, amar como João se sentiu amado.
Com exclusividade. Com verdade. Com uma palavra que diz “você”.
E quero que o Davi sinta isso. Mesmo quando estou distraído. Mesmo quando estou ausente. Mesmo quando o mundo me arrasta para dentro do turbilhão.

Hoje não tem pauta.
Tem amor.
Tem lágrima.
Tem essa “reflexão” sobre um Reels de Jesus e um menino puxando a minha mão.

E talvez seja esse o “evangelho” que eu precisava escrever hoje.

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