Diário de Curitiba

Vereadora Camilla Gonda denuncia tentativa de silenciamento após abertura de duas sindicâncias na Câmara de Curitiba

Camilla Gonda (PSB) – Foto: Rodrigo Fonseca/CMC

A vereadora Camilla Gonda (PSB) denunciou nesta quinta-feira (3), por meio de vídeo publicado em suas redes sociais, o que classificou como uma tentativa de silenciamento político dentro da Câmara Municipal de Curitiba. A parlamentar é alvo de duas sindicâncias instauradas nesta semana pela Corregedoria da Casa, cujas portarias foram publicadas no Diário Oficial da última terça-feira (1º).

De acordo com Gonda, os procedimentos são fruto de ações “diretas e coordenadas” de colegas de plenário que estariam incomodados com o desempenho do mandato. “Não vejo isso como um silenciamento institucional por parte da Câmara em si, mas sim como ações diretas de parlamentares específicos que claramente estão tentando me calar”, afirmou à reportagem.

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As duas sindicâncias que envolvem a vereadora foram instauradas a partir de representações feitas por outros dois vereadores. Segundo documentos acessados pela reportagem por meio de uma fonte com trânsito na Câmara, uma das sindicâncias refere-se a uma acusação de comportamento “desrespeitoso, debochado e provocativo” por parte da parlamentar durante a fala de um colega em plenário, no dia 16 de junho. A outra envolve acusações mais graves, incluindo denunciação caluniosa e violência política.

Procurados pela reportagem, os vereadores Renan Ceschin (PP) e Olimpio Araújo Júnior (PL), autores das representações, preferiram não se manifestar.

Gonda rebate e fala em perseguição política

Em entrevista ao Diário de Curitiba, Camilla Gonda rechaçou as acusações. Sobre a sindicância que aponta comportamento inadequado em plenário, disse estar “absolutamente tranquila”:

“As sessões são públicas e ficam gravadas. A conduta pode ser conferida por qualquer pessoa. Inclusive, o próprio vereador chegou a pedir desculpas durante a sessão.”

Já em relação à denúncia por violência política, Gonda afirmou tratar-se de “uma nítida tentativa de inversão de papéis e vitimização”. Segundo ela, o episódio está relacionado à ocasião em que respondeu a ataques misóginos feitos por um parlamentar em suas redes sociais.

“Ele atacou minha vestimenta, minha postura como mulher na política e tentou descredibilizar nosso trabalho.”

A vereadora também destacou que o mandato já apresentou 1.015 proposições legislativas desde o início da legislatura, contra 469 do parlamentar que a denunciou — dados utilizados por ela na tribuna como argumento de defesa.

Embora os nomes dos autores das sindicâncias não tenham sido mencionados oficialmente por Gonda, ela afirma saber quem são os responsáveis e sugere que as ações fazem parte de uma estratégia coordenada para desgastar sua imagem.

“Prefiro não citar nominalmente os parlamentares, pois, ao que me parece, tudo que eles buscam nesse momento é criar narrativas infundadas para gerar publicidade pessoal e desviar o foco do verdadeiro debate político.”

Corregedoria analisa casos sob sigilo

As duas sindicâncias contra Camilla Gonda tramitam sob sigilo, conforme previsto nos artigos 34 a 36 do Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara. Segundo o corregedor da Casa, vereador Sidnei Toaldo (PRD), o objetivo dos procedimentos é levantar elementos que possam configurar infrações éticas. Caso haja indícios suficientes, os casos poderão ser encaminhados ao Conselho de Ética para abertura de processo disciplinar.

As sindicâncias foram registradas nos processos administrativos 727/2025 e 810/2025. Com essas duas novas apurações, chega a 17 o número de sindicâncias abertas neste ano, das quais 9 já foram arquivadas por falta de elementos e uma foi encaminhada ao Conselho de Ética.

Especialista vê traços de violência política de gênero

Para a cientista política Jussara Cardoso, pesquisadora em discurso masculino sobre mulheres na política, o caso de Camilla Gonda se insere num padrão histórico de tentativa de controle sobre parlamentares mulheres.

“As instituições políticas no Brasil foram dominadas por homens por 165 anos antes da Constituição de 1988 garantir igualdade formal. O que os vereadores fazem com Camilla Gonda hoje tem raízes em discursos que sempre questionaram a capacidade da mulher de exercer poder”, afirma.

Segundo Jussara, o uso de mecanismos formais como sindicâncias e comissões de ética contra mulheres combativas se tornou uma “ferramenta moderna de silenciamento político”.

“Toda mulher que se recusa a seguir a linguagem patriarcal no parlamento será tachada de histérica, desequilibrada ou grosseira. É uma covardia exemplar.”

A especialista também destacou o uso recorrente da linguagem como instrumento de opressão. “Os homens políticos estão acostumados com discursos elogiosos, até mesmo nas críticas. Quando mulheres se recusam a adotar essa linguagem, são punidas informalmente — ou formalmente, como neste caso.”

Mandato prepara reação jurídica

Camilla Gonda afirmou que sua equipe jurídica está analisando todas as medidas cabíveis e confia na atuação da Corregedoria. “Tenho plena confiança na seriedade da Corregedoria para avaliar essas situações com o rigor necessário e respaldada pela legislação.”

A parlamentar também mencionou que outras vereadoras da oposição já foram alvo de representações similares nesta legislatura. “Não são casos isolados. Isso nos parece uma tentativa de coação política que precisa ser combatida.”

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