Diário de Curitiba

Especialistas discutem posição do Brasil em relação ao conflito Russo-Ucraniano

Charge de Clayton Rucaly

Nos últimos dias, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, tem exacerbado declarações polêmicas em torno do conflito que perdura há mais de um ano na Ucrânia. Em uma de suas declarações ele chegou a dizer que a Ucrânia também era culpada pela guerra, e que os EUA tinham que parar de incentivar o conflito. Os discursos não agradaram grandes líderes mundiais, e a Ucrânia chegou a convidar Lula para visitar o país, para que o presidente enxergue as atrocidades causadas pela Rússia. Em pergunta sobre o posicionamento do presidente do Brasil, Karine Jean-Pierre, porta-voz da Casa Branca, afirmou nesta terça-feira (18), em resposta à jornalista Raquel Krähenbühl, correspondente da Globonews, que o governo americano se posiciona contra as declarações de Lula. 

“Não há nenhuma objeção a qualquer país que tente colocar fim à guerra. Uma guerra que eles – Rússia – começaram. Ficamos surpresos com o tom da entrevista coletiva do Ministro das Relações Exteriores, ontem. Não era um tom de neutralidade”. declara a porta-voz que finaliza dizendo que infelizmente a Rússia não demonstrou interesse em acabar com a guerra, e que continuaram a trabalhar ao lado de países que ajudaram a defender a Ucrânia e que apoiam uma paz justa e duradoura e que respeite a carta da ONU. 

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De acordo com a Cientista Militar, Analista de Relações Internacionais e Doutora em Estudos Estratégicos Internacionais, Bruna Reisdoerfer, o Brasil nem sempre adotou postura neutra em guerras. A analista lembra que o país entrou em guerra contra o Paraguai no século XIX e na Primeira e na Segunda Guerras Mundiais lutou ao lado dos aliados. Mas na sua história recente, o país tem tradição de neutralidade. Mesmo assim, Reisdoerfer enfatiza que o atual contexto das relações internacionais e da política externa brasileira devem ser analisados de forma macro, entendendo os efeitos da estrutura do Sistema Internacional e da geopolítica nas ações estatais.

“Adotar uma postura pragmática, dialogando com todos os polos de poder e instrumentalizando a posição estratégica do Brasil no mundo, faz com que tenhamos poder de barganha para negociar vantagens materiais ou imateriais (como liderança política no mundo). Posturas pragmáticas para potências regionais como o Brasil são ações estratégicas e essenciais para se desvencilhar de uma relação de subordinação com um dos polos de poder e poder então ter certa autonomia de decisão”. comenta a cientista.

Para James Onnig, professor de Relações Internacionais da Facamp, o atual quadro geopolítico do planeta exige que os países sejam precavidos. Para o professor, especialmente no caso deste conflito, o Brasil, parceiro da Rússia nos Brics e umbilicalmente ligado à China também aliada da Rússia, manteve a sua linha de ação que marca a nossa diplomacia, que seria promover a paz e manter uma posição equilibrada sobre o problema. 

“As falas do Presidente Lula estão contextualizadas e as reações da mídia e de opositores são absolutamente esperadas. Promover o fim do conflito ou no mínimo um cessar-fogo é importante em escala planetária. Para isso o Brasil continua defendendo a integridade territorial da Ucrânia e exorta que ambos os países negociem.” explica Onnig.

Do outro lado da guerra, já não é novidade que os EUA vivem em situação de tensão com a China, principalmente no que diz respeito às relações comerciais. Qualquer ato ou ação contrário ao que os Estados Unidos defendem é visto como ameaça, ou até mesmo como desrespeito. Com as declarações de Lula, o Brasil acaba gerando reações negativas por parte de Washington.  

James Onnig, ressalta que no momento a posição brasileira de formação de um grupo de paz, junto a declaração de apoio mútuo, com a China, para a solução do conflito Russo-Ucraniano é um caminho bastante sereno e realista.  “Me parece que essa insistência em neutralidade é uma forma de apagamento do Brasil do xadrez internacional justamente porque os EUA sabem que nossa posição é apoiada por muitos países em desenvolvimento do Sul Geopolítico”, enfatiza Onnig.

Bruna Reisdoerfer, comenta que o melhor caminho para o Brasil se projetar de forma autônoma e conquistar ganhos políticos, econômicos e tecnológicos é adotar uma postura pragmática, na qual demonstra a sua neutralidade e a sua disposição em liderar a tentativa de reorganização do Sistema Internacional pós Guerra na Ucrânia. 

Dessa forma, o Brasil se projeta como uma importante liderança mundial e demonstra que está disposto a colocar em outros termos as relações que possuem com o ocidente. É possível negociar acordos mais vantajosos. Um exemplo é o fortalecimento dos BRICS, focando nos projetos de financiamento de infraestrutura entre seus membros.  Ao longo da história do Brasil, o país possui relações sólidas com os Estados Unidos, que atualmente é o segundo maior parceiro comercial, mesmo tendo ¼ do comércio com a China. Obviamente, houve inúmeras discordâncias, como dito pelo professor Onnig, entretanto, nada chegou ao ponto de uma reação grave ao Brasil ou que impactasse as relações que passam por momentos mais distantes e mais próximos como todas as discussões diplomáticas. 

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