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A blindagem da vergonha

Chamemos a PEC da Blindagem pelo que ela é: um seguro parlamentar contra a lei. Não uma proteção da democracia, mas uma apólice de impunidade paga com o suor dos eleitores.

A partir de agora, deputados e senadores só poderão ser investigados se os próprios colegas assim o desejarem — em votação secreta, claro. Porque nada grita mais “transparência” do que a escuridão de um voto escondido.

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O argumento, dizem, é preservar a independência do Legislativo. Na prática, é blindar o crime sob o verniz da Constituição. O cidadão comum, se flagrado em delito, é algemado e conduzido sem consulta prévia a seus vizinhos. O parlamentar, se surpreendido em flagrante, terá noventa dias de graça e o julgamento de seus amigos. É a raposa julgando a raposa, com o galinheiro de plateia.

A aprovação foi esmagadora nesta terça-feira (16): foram 353 votos. Raros os que se levantaram contra. Talvez porque a tentação da imunidade seja irresistível — quem, afinal, não gostaria de ter o poder de decidir se deve ou não ser investigado?

O resultado é claro. O Brasil, que já convive com a desigualdade em tantas frentes, agora terá também uma desigualdade oficializada no campo da justiça. Para uns, a lei é um muro. Para outros, uma cortina.

A PEC da Blindagem não fortalece o Congresso. Enfraquece a República. Não preserva a democracia. A humilha. E o mais grave: ensina ao país que, no Brasil, a coragem de se esconder é a mais valorizada das virtudes políticas.

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