Dados do MP mostram que de janeiro a setembro de 2020 foram registrados 162 inquéritos de feminicídio ou tentativa de feminicídio no PR
No mês do Dia Internacional da Mulher, um projeto de dança de uma companhia curitibana traz à tona discussões importantes sobre como o suporte e a união têm papel essencial no fortalecimento de mulheres que se encontram em situação de vulnerabilidade. Um dos principais objetivos do espetáculo ‘Físico, Verbal e Emocional’, que será realizado entre os dias 05 a 08 de março, é conscientizar a população sobre os diferentes tipos de violência contra mulheres e meninas.
Para Juliana Kis, coreógrafa, diretora e idealizadora do projeto, a temática foi escolhida baseada em histórias que acompanhou ao longo dos anos e também por acreditar que a arte possibilita trazer reflexões e promover a conscientização da sociedade acerca deste tema.
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“Nascer mulher em uma sociedade patriarcal já é o suficiente para compreender a importância de criar este tipo de diálogo e reflexão. Além disso, presenciei histórias de amigas, familiares, seja de perto ou longe, que me fizeram apostar nessa reflexão e discussão. Acredito que a arte tem um papel fundamental em trazer temáticas importantes para a cena artística, e de forma poética e integradora, denunciar, ressignificar e conscientizar a população sobre a questão da violência contra mulheres e sobre a desigualdade de gênero”, ressaltou.
Toda a programação do evento, que se inicia na próxima sexta (05 de março) poderá ser acompanhada pelo Instagram da companhia @brainstormdancecompany (https://www.instagram.com/brainstormdancecompany/) e pela Twitch TV http://twitch.tv/brainstormdancecompany .
Pandemia x violência contra a mulher
Um levantamento do Ministério Público do Paraná mostra que de janeiro a setembro de 2020 foram registrados 162 inquéritos de feminicídio ou tentativa de feminicídio no estado – 18 em Curitiba. Em média, 71,8 mulheres sofrem agressões, ameaças e violência todos os dias no estado, uma situação que se agravou ainda mais com a pandemia da Covid-19.
Segundo Juliana, a violência contra a mulher é uma epidemia oculta que existe muito antes da Covid-19.
“Permanecer em casa é a maneira mais segura para evitar a propagação do coronavírus, porém, a segurança do lar é perdida, quando muitas destas mulheres passam a conviver frequentemente com seus agressores e abusadores. Estudos mostram que 3/4 das vítimas de violência, aproximadamente 76% das agressões, são cometidas por conhecidos (namorado, cônjuge, companheiro, vizinho ou ex). O espetáculo é uma forma de dialogar com essas mulheres, reforçar os canais de denúncia, como o 180, e mostrar a importância da união e do empoderamento feminino na luta contra à violência entre mulheres e meninas. Juntas, podemos criar uma rede de suporte e, através da arte, mostrar a força da mulher”, ressaltou a diretora.
Ela lembra, ainda, que um dos grandes objetivos do espetáculo não é somente dialogar com as mulheres, mas com os homens, que também dependem de conscientização e acolhimento.
“Tivemos rodas de conversa sempre no pós-espetáculo nas cidades onde passamos, e neste espaço, tivemos colaborações de homens e mulheres. Homens que contavam histórias sobre suas esposas, suas mães, e até sua relação pessoal com uma sociedade educada e formatada de forma patriarcal. Em diferentes graus, todos são ‘vítimas’ de uma sociedade machista, e todos precisam ser acolhidos”, afirmou Juliana.
Para a idealizadora do projeto, essa é uma pauta de toda a sociedade, sem qualquer distinção. A dança, a música, o texto, a energia e a vibração trazida para o palco podem despertar uma sensibilidade para processos de transformação. Em muitos casos, a mulher está sendo abusada psicologicamente de maneira tão sutil que não percebe esses abusos. No exercício de uma ouvir a outra, abre-se a oportunidade de questionar e dialogar sobre as experiências vividas.
“O trabalho busca dialogar através da arte e do amor, compreendendo que quanto mais as pessoas falarem, refletirem e denunciarem, maiores serão as possibilidades de alcançarmos a tão sonhada consciência coletiva e igualdade de gênero, com o objetivo de, no futuro, vivermos em um lugar mais justo, tolerante e igualitário”, finalizou a diretora.
Sobre o espetáculo
O espetáculo ‘Físico, Verbal e Emocional’, com duração de 40 minutos, apresenta uma riqueza artística trazida por sete bailarinas, mulheres, artistas co-criadoras com experiência nacional e internacional, que dividem o palco em uma linda e surpreendente mistura. Transitando entre os estilos Hip Hop, Krumping, House e Dança Contemporânea, essas artistas propõem uma reflexão sobre a violência contra a mulher e prometem emocionar a plateia.
Em 2020, o espetáculo foi aprovado pelo edital ‘PROFICE’ e viabilizado por meio do ‘Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura do Governo do Estado do Paraná”, com o apoio da ‘Copel Distribuição S/A’. Estavam previstas dez performances em cidades paranaenses com altos índices de violência contra a mulher e acesso limitado à cultura, algumas, adiadas em função da pandemia da Covid-19.
Dentre os tantos ‘efeitos colaterais’ que a pandemia trouxe, destaca-se o aumento significativo da violência doméstica e familiar sofrida por mulheres e crianças, em função do isolamento domiciliar.
Com o interesse em manter essa voz ativa e enfatizar a importância desse debate, especialmente neste momento, surgiu a necessidade de dar continuidade a este projeto.
Nesta nova etapa, além das exibições online do espetáculo ‘Físico, Verbal e Emocional’, também serão oferecidas lives informativas, aulas de dança, bate-papo com as artistas, e uma live intitulada ‘InspirARTE’, um espaço criado com o objetivo de contribuir com a promoção de coletivos, ações e/ou projetos individuais que enfatizem as mulheres e a arte em suas diferentes representatividades.
Sobre a companhia
Idealizada e dirigida por Juliana Kis e com mais de 10 anos de estrada, a companhia curitibana ‘Brainstorm Dance Company’ tem a intenção de criar uma imagem diferenciada no cenário da dança. Transitando entre o Hip Hop e a dança contemporânea, o grupo agrega bailarinas de diferentes vivências corporais, criando assim uma imagem heterogênea e ao mesmo tempo harmônica. Todas as integrantes possuem vasta experiência em dança e tem suas carreiras projetadas também no mercado internacional.
Ao longo dos anos, a Cia. vem crescendo e ganhando espaço no cenário da dança, através de convites para aberturas em festivais e premiações alcançadas em eventos de grande porte, como ‘Rock in Rio Street Dance’ e ‘Batalha no Salto’ na TV Xuxa | Rede Globo.
Colaboração Assessoria de Imprensa