Por Suzana Dutra
Em tempos de pandemia e guerra, alternativas possíveis para atenuar o impacto da escassez de alimentos no mundo são discutidas e exploradas à exaustão.
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Na atualidade, o nosso mundo é afetado por uma onda de problemas com as mais variadas ramificações, uma delas, fundamental, é a dificuldade em suprir a população com alimentos em quantidade e qualidade suficientes.
Devido a fatores como o crescimento populacional, condições climáticas, escassez hídrica, efeitos trazidos pela pandemia e conflitos políticos em curso, os quais nos afetam mundialmente e nos fazem pensar em saídas para emergências, como o desabastecimento e a dependência dos países por itens não produzidos por eles ou que, mesmo produzidos, não suprem suas necessidades.
Há muito tempo o mundo vem sofrendo com a escassez de alimentos, devido aos mais variados problemas que foram citados anteriormente nesta temática. Também é certo que há muitos projetos em estudo que buscam solucionar esta questão, “os alimentos limpos”, como os alimentos de origem vegetal, os plate-based, a “carne limpa” etc, são exemplos disso, sua base é vegetal, com isso são investidos altos valores no seu desenvolvimento em laboratórios pelo mundo todo e investidores apostam que essa será a solução para o futuro.
Devido ao alto custo e ao tempo escasso em relação à problemática da fome, demandará tempo até alcançar tal tecnologia para o alimento chegar à mesa da maioria das pessoas, pois exige muito investimento, anos de pesquisa e a exploração financeira dessas atividades no mercado por parte da grande indústria alimentícia.
Ações de órgãos e instituições para resolver o problema do desperdício de alimentos
Enquanto isso, existem movimentos direcionados ao rastreamento, mobilizações e execução por parte de grupos de trabalho humanitário que tentam minimizar e provisionar situações que supram o ser humano das necessidades essenciais de segurança alimentar e social, garantindo o básico às populações em risco. A Unicef, por meio da agência Líder Nutrition Cluster, é um exemplo desse tipo de atividade. Entre outras instituições que promovem pelo mundo a consciência alimentar, por meio da educação e informação sobre o que consumimos, está o “Projeto Cozinha Brasil”, projeto que visa a introdução do conceito da alimentação aproveitando integralmente os alimentos. Esse projeto é viabilizado pela instituição SESI (Serviço Social da Indústria), onde atuei como Instrutora. Também temos o SESC (Serviço Social do Comércio), com o “Projeto Mesa Brasil”, que atua captando excedentes ou alimentos fora dos padrões de comercialização alimentares de empresas, revertendo em benefício coletivo. Assim como também há desenvolvedores de programas para aplicativos voltados para facilitar a distribuição e comercialização de produtos que seriam descartados ao final do dia, por não terem sido vendidos nos estabelecimentos comerciais, sendo esses vendidos a preços reduzidos, como exemplo temos a “Too good to go” na Europa e na América do Norte.
Estratégia histórica na Segunda Guerra
Historicamente, durante a Segunda Guerra Mundial, que perdurou de 1939 à 1945, onde a escassez de alimentos se mostrou implacável, os alemães atacavam os navios que transportavam alimentos para os adversários como forma de enfraquecê-los. Com isso o governo britânico desenvolveu uma política de racionamento que era controlado por meio de cadernetas individuais e intransferíveis (Ration Book), como a forma de regular o que o indivíduo tinha direito a obter para a sua alimentação, sendo que até na questão de aquisição de combustíveis houve racionamento, bem como também o encorajamento por parte do governo para que as pessoas produzissem e plantassem seus próprios alimentos. Naturalmente muitos alimentos ficaram escassos e vários itens, como produtos frescos e frutas, desapareceram do mercado, sendo que mesmo depois do final da guerra em 1945, alguns produtos ainda seguiam racionados até por volta de 1949.
Como minimizar o desperdício?
Com tudo isso, podemos pensar no que mais poderia ser feito para amenizar a escassez de alimentos e aumentar a oferta nutricional das pessoas. Se colocarmos em perspectiva a demanda e o tempo que corre contra o relógio da fome poderíamos usar o que temos à mão e multiplicar em uma razão bem simples, sabendo-se que um quarto ou até metade de um alimento é desperdiçado e literalmente jogado no lixo. Quando um alimento, como exemplo, uma banana é consumida, parte dela é desprezada e você nem imagina a possibilidade de pratos à base de casca de banana que podem compor uma dieta saudável, sendo que ela pode até substituir a carne em várias preparações.
Segundo dados fornecidos pela ONU, 10% do desperdício acontece no momento da colheita, 50% no manuseio e transporte, 30% nas centrais de abastecimento e 10% nos supermercados e consumidores (dados extraídos do ano de 2020).
O investimento em tecnologias para o plantio, colheita, beneficiamento, transporte, como também no processo de educação para a consciência em relação ao alimento, criando assim, uma nova geração, com um olhar direcionado ao aproveitamento integral dos alimentos, trazendo benefícios econômicos e de saúde pública de forma geral, torna-se cada vez mais necessário.
Atitudes interessantes como a formação de cardápios sazonais
Quando um cardápio é fixo, depende de todos os itens à disposição, mesmo em época de preços altos, uma maneira de reduzir custos, seria não ter cardápio fixo e sim um cardápio sazonal com produtos adquiridos de pequenos produtores locais. Muitos não sabem, mas essa é uma forma de incrementar a agricultura e a fixação do homem no campo, reduzindo a pressão populacional nos grandes centros e diminuindo a procura por produtos escassos.
A informação como ferramenta de mudança de hábitos
Acredito que tudo parte da informação e da sua aplicação prática na nossa vida, levando um novo conceito alimentar às escolas e, por meio das crianças, introduzindo uma novidade na dieta familiar, trazendo as mães e a família para cursos, apresentando-lhes formas de conservação e desmistificando o consumo de alimentos antes não consumidos. Isso pode ser desenvolvido de forma ampla, intensa e consistente o ano todo, formando conceitos e práticas no cotidiano do indivíduo. Assim como ele aprendeu a se alimentar de produtos que não tem ideia de como são feitos, por outro lado, nesse aprendizado, teria a oportunidade consciente do que irá compor sua dieta, a melhor forma de consumir e conservar os alimentos.
Suzana Dutra é gastrônoma e educadora com Pós graduação em Gestão, organização de Eventos, e produtora de conteúdo para Internet.