Os discursos de ataques às mulheres candidatas, eleitas e até as eleitoras, assim como discursos de tons “apaziguadores” ou elogiosos em certa medida, são as principais armas de manutenção do poder masculino na política.
Quando pensamos em participação política, é preciso reconhecer que não é de hoje que homens impedem, ou dificultam e portando não querem uma maioria de mulheres eleitas, querem que continuemos a maioria que pode e será usada para disputar voto no discurso. E apenas no âmbito dos discursos.
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Qualquer discurso: Bom, ruim, vexatória, discriminatória, empoderador, que busca falar sobre essência feminina, ou apelar para o “lado maternal”, não importa, todo discurso sobre mulheres, articulado principalmente por homens candidatos, visam voto.
Um exemplo na atualidade, no 1º debate presidenciável, mesmo com duas mulheres candidatas a presidências participando, o atual presidente Jair Bolsonaro escolheu o candidato Ciro Gomes para falar sobre mulheres: “Vou perguntar para o Ciro, vamos ter um papo sobre mulher aqui Ciro”.
Ele não queria dialogar com uma mulher, muito menos com as mulheres no plural. Ele queria apenas discursar num tom de autopropaganda, tendo outro interlocutor homem, em busca dos votos das mulheres.
A postura do Ciro, em apenas responder sobre a questão, numa evidente autopropaganda também, mostrou que ele enquanto homem aproveitou o dialogo, se limitam em apenas discursar para conquistar votos.
Caso fosse interesse a real participação das mulheres na disputa de poder político, para qualquer um dos dois: Bolsonaro teria escolhido uma das candidatas mulheres não Ciro. Ou Ciro teria como 1º atitude chamar a atenção do candidato para as outras 2 candidatas ali presentes.
Todo discurso sobre mulheres, no cenário de poucas mulheres eleitas, visa apenas estimular ou desestimular votos. Escolhem manter as mulheres apenas no plano do discurso, seguem ganhando o jogo da manutenção masculina de poder político.
Enquanto ditarem que “mulheres” são simples objetos de discurso político, a exemplo do que vimos no debate, e não agentes da política, ou seja, pessoas que são chamadas para falar elas e sobre as questões que impactam suas vidas diretamente, seguirão sozinhos confortáveis e confiantes que podem ditar as regras sobre nossos corpos.
Mulheres, no cenário político institucional brasileiro ainda não são tratadas como pessoas. São objetos de controle masculino. De controle da política masculina.
Romper com esse controle político masculino começa por reconhecimento da existência de política feminina, principalmente da política cotidiana, que todo o universo feminino executa fora das instituições (legislativa/ executivas) políticas. Por política feminina, entenda aqui que estou falando sobre toda ação que mulheres executam na sociedade com o trabalho de cuidado, seja da casa, das crianças, dos idosos, das pessoas doentes ou não.
Reconhecer a política feminina não é necessariamente só ocupar o percentual de candidaturas que homens estipularam para participação feminina nas disputas eleitorais, ou seja, as 30% de candidaturas. Reconhecer a política feminina começa por reconhecer que as mulheres já são pessoas políticas.
Mulheres, sendo minorias eleitas tendem a continuar executando uma política masculina. Homens são a maioria, portanto o pensamento e jogo político também será masculino. São eles que aprovam sozinhos qualquer coisa nas casas legislativas do país.
Mesmo que as 15% de mulheres eleitas atualmente tenham consenso em uma única pauta feminina, elas ainda sim, dependem da aprovação única e exclusivamente masculina. O jogo é jogado pela régua masculina. Pra ficar claro, 15% de mulheres eleitas não interferem na régua masculina, não a faz ser menos masculina. É ainda a política masculina, ou seja, os interesses dos homens eleitos que prevalece.
É preciso reconhecimento da existência de uma política feminina, e, sobretudo, reconhecer pra ontem que a política masculina é também, se não a principal, a pratica de impedir a política feminina de jogar o jogo político. São homens os responsáveis por impedir historicamente que mulheres disputem de forma igualitária o poder nas instituições.
Para homens, mulheres podem fazer parte da política no sentindo da palavra política que é “viver em sociedade”, desde que sua pratica política:
1º ganhe o nome de “coisas de mulher”, tirando dela o sentimento de que mulheres fazem política, por tanto negando nós o noção de que exercemos política;
2º executem as “coisas de mulher” sem ameaçar o poder masculino na política institucional;
3º E se mesmo assim entrarem no espaço da política institucional, ou seja, ser eleitas, que sejam minorias silenciosas e silenciadas.
Discursar sobre mulheres esperando que elas ajam como eles esperam é a expectativa de todo homem. Ser aplaudido por outros homens por suas falas é o que basta para que continuem usando mulheres como objetos de discurso e não como pessoas com potenciais chances de ganhar eleição. Não querem equidade (igualdade) entre homens e mulheres, a eles, basta apenas a igualdade entre eles.