Parecia um domingo qualquer, mas já começou com uma notícia explosiva: morreu Roberto Dinamite, ídolo do Vasco da Gama, “detonando” uma produção incontrolável de trocadilhos na internet. Pois é, enquanto um chora, como dizia Tim Maia, “o outro ri”. Dessa forma, cada um passou o tempo à sua maneira, incluindo aqueles que tentam encontrar mensagens ocultas em tudo, como no vídeo em que Bolsonaro passeia em um supermercado, e muitos interpretaram como um aviso de que vai faltar comida para a população. E de teoria da conspiração em teoria da conspiração, Brasília pegou fogo de novo. Será que se tivessem prendido alguém nos atentados após a diplomação de Lula, em dezembro, teria ocorrido a selvageria do último domingo?
A violência é como o mato, que nasce em qualquer lugar, e se não for arrancado pela raiz, brota de novo com mais força. Como resultado, milhares estão na mesma situação da Dona Fátima, de Tubarão, Santa Catarina, que aos 67 anos, possivelmente responderá na justiça por atos de terrorismo. Tudo, graças ao vídeo em que a idosa aparece em meio ao “quebra-quebra”, no Superior Tribunal de Justiça (STF), dizendo: “é guerra, vamos pegar o Xandão, agora”. Enquanto isso, tem ex-presidente curtindo férias nos Estados Unidos, ganhando mais de 40 mil reais de aposentadoria.
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Intervenção federal
Pediram tanto que ela acabou vindo, só que assinada pelo presidente… Lula. Até 31 de janeiro, a segurança do Distrito Federal passa a ser… federal. Pior para o governador Ibaneis Rocha (MDB), isolado dentro do próprio partido, e afastado do cargo pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes.
Na Praça dos Três Poderes, ficaram inteiras só as paredes no Palácio do Planalto, exclusivo da presidência, no Palácio do Alvorada, onde fica o STF, e no Palácio do Congresso Nacional, reservado aos deputados e senadores. Se os vândalos soubessem que os prédios foram criados por Oscar Niemeyer, membro histórico do Partido Comunista Brasileiro (PCB), será que as paredes teriam permanecido de pé?
No meio da balbúrdia, teve até “gênio” perdendo a carteira. Para esses, recomenda-se passar na delegacia do Distrito Federal para retirar seus documentos. Aliás, a perícia da polícia ainda não foi concluída, mas já dá para apontar que “quebra-quebra” não tem nada a ver com patriotismo. Móveis podem ser comprados novamente, mas e os itens históricos? É o ódio ao conhecimento que leva alguém a perfurar quadros com faca? Por que danificar a tapeçaria feita por Burle Marx? Alguma fake news afirmou que ele era irmão do Karl Marx? E a cópia da Constituição, que felizmente não eram seus originais, mas que também sumiu? Teve mensagem de “zapzap” dizendo que ela foi escrita por Paulo Freire? Enfim, pessoas com muita vontade de fazer algo e pouco conhecimento, inclusive da lei, o que fica claro quando postaram fotos e vídeos de si mesmas praticando os atos de vandalismo. Porém, para se beneficiar da ingenuidade alheia sempre há os malandros, que sabiam onde estavam documentos sigilosos da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), armas letais e levaram tudo. E sem postar nada na internet sobre o roubo.
Pode-se lamentar os prejuízos materiais e culturais, mas diante de tamanha fúria, e se houvesse gente do governo por ali? Qual seria o fim da pessoa? Há quem ainda diga que os atos de violência são obra de infiltrados. Se for assim, então tem muito infiltrado, o suficiente para uma multidão cercar e agredir a pauladas um policial da cavalaria. Nem o cavalo escapou, exemplificando como o dia oito de janeiro de 2023 entrou para a história dando razão para quem, no mundo inteiro, vê o Brasil como um país atrasado.
Mas sempre fica um aprendizado: para evitar problemas sérios, que tal resolvê-los enquanto ainda são pequenos? Então, na próxima vez em que um parlamentar incitar à violência, deve-se caçar o seu mandato. Simples assim. Principalmente se alguém tiver a ousadia de falar em “fuzilar o presidente da república”, como já ocorreu de forma impune. Fica a torcida para que, em protestos de professores por melhores salários, a polícia passe a tratar os mestres com a mesma delicadeza com que lidaram com os manifestantes em Brasília. Por fim, enquanto o Neymar lamenta ser o único brasileiro que apanha usando a camisa da seleção, viralizou a imagem de um vendedor de algodão doce caminhando em meio ao “quebra-quebra”. Mesmo o algodão não sendo verde e amarelo, deve ter ganho algum dinheiro. Trabalhando. Nem sempre parece, mas o Brasil tem jeito.
- Fernando Ringel é jornalista e professor universitário.