
Nem a chuva impediu o público de curtir mais um dia de Festival de Curitiba. Em cartaz no Guairinha (Auditório Salvador de Ferrante), o espetáculo O Tempo e a Sala, da mostra Lúcia Camargo, estreou ontem (29) em grande estilo. Teatro lotado para prestigiar mais essa obra da programação. A peça é um texto de Botho Strauss, grande nome do teatro alemão contemporâneo e um dos autores europeus vivos mais encenado no mundo.
Basicamente, a história trata-se de dois homens, dois guardiões do tempo, refletindo sobre o limite entre o tempo e o espaço a partir de suas memórias e dramas pessoais. A peça gera inúmeras reflexões, entre elas a finitude e a relação com a despedida da vida.
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Em um apartamento antigo, no centro de uma grande cidade, vivem Julius (Rodrigo Ferrarini) e Olaf (Daniel Warren). Dois homens que, como guardiões do tempo, observam a cidade e, a partir de suas memórias, atraem para dentro do ambiente a personagem Marie Steuber (Simone Spoladore), cujas memórias e dramas pessoais tomam conta do lugar, fazendo parte da realidade e/ou dos devaneios dos anfitriões. Houve uma festa naquele lugar? As personagens existem de fato? O que é sonho e o que é realidade? O que é concreto e o que é imaginação? Quais os limites entre o tempo e o espaço?
Além das reflexões, os diálogos trazem algumas citações e referências, como a referência da mitologia grega, ao citar Medeia, personagem descrita extensivamente na peça Medea, de Eurípedes e no mito de Jasão e os Argonautas. Famosa pela prudência, pela arte de curar e pelos poderes mágicos, a princesa de Cólquida enamora-se de Jasão, o líder dos Argonautas, que tinha ido à cidade para conquistar o velocino de ouro. Esse herói não teria sobrevivido à tarefa se não tivesse recebido ajuda de Medeia, a feiticeira. Essa citação foi um grito de empoderamento feminino, com falas que dão a interpretação de que mulheres não devem abrir mão de seus desejos, nem se deixarem calar.
O clima de nostalgia também se fez presente no teatro, pois, parte do elenco (Simone Spoladore, Leandro Daniel, Rodrigo Ferrarini, Maureen Miranda e Adriana Seifert), iniciaram carreira e aprendizados nos teatros curitibanos, nos anos 90. Há ainda a participação da voz gravada de Letícia Spiller. Como muitos de seus colegas de geração, este grupo se estabeleceu em outros centros e fez trabalhos marcantes no teatro, cinema e televisão. Passados 25 anos estão de volta ao solo curitibano, entregando de presente ao público essa obra prima digna de aplausos. E foi aplaudida, de pé.
Última exibição acontecerá hoje, as 20h30 no Guairinha.
Confira fotos: (Fotos: Humberto Araujo)















FICHA TÉCNICA
Colombo Produções.
Texto: Botho Strauss.
Tradução: Fernanda Boarin Boechat.
Direção: Leandro Daniel.
Direção de Produção: Colombo Produções e Banalíssima Arte.
Dramaturgia: Flávio Stein.
Elenco: Simone Spoladore, Rodrigo Ferrarini, Jandir Ferrari, Daniel Warren, Ranieri Gonzalez, Adriana Seifert, Leandro Daniel, Maureen Miranda e Bia Arantes.
Idealização: Leandro Daniel.
Psicanálise e Desenvolvimento Humano: Fabi Broto.
Iluminação: Adriana Ortiz.
Cenário e Adereços de Cenário: Fernando Marés.
Figurinos e Adereços de Figurino: Ana Avelar.
Trilha Sonora: Edith de Camargo