Com 4 meses de governo, Lula adotou uma estratégia liberal, cortou ministérios e ainda patina nas relações econômicas
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva é o primeiro dito do espectro esquerda a se eleger desde 2016, após o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, e nesta segunda-feira (10), completa-se cem dias de seu governo, marcado por invasão golpista, desentendimentos com o mercado econômico brasileiro, resquícios negativos do governo Bolsonaro e fortes declarações, envolvendo o Senador da República eleito pelo estado do Paraná, Sérgio Moro e a guerra da Ucrânia. No dia 08 de janeiro, Lula já teve seu primeiro obstáculo, quando houve a invasão golpista à Esplanada, onde a constituição foi desrespeitada e a democracia colocada em risco.
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Como uma das consequências dos atos de vandalismo, a desconfiança do atual presidente da república com os militares cresceu, e junto com isso, a demissão do comandante do Exército, Júlio César de Arruda, e por mais que haja o famoso embate entre direita e esquerda, ambos acreditam num acordo benéfico entre todos ao longo desses quatros anos de governo Lula. Ao que tudo indica, ainda no dia 19 de abril, Lula deverá participar de um almoço junto ao general, Tomás Miguel Ribeiro Paiva, e com integrantes do exército. Na data que é marcada como o Dia do Exército.
Além dos ataques golpistas de 8 de janeiro, Lula patina em suas relações econômicas, adotou estratégia liberal e postura conciliatória para pacificação no Haiti e recentemente sua posição neutra para com a guerra Rússia- Ucrânia, ainda enfrentou a Crise Yanomami, que perdurou a partir do governo de Jair Bolsonaro.
Além da tentativa de golpe em janeiro, Lula teve que trabalhar em resquícios deixados pelo governo anterior, além de tentar sobreviver a toda a nuvem da polarização política nos últimos anos. Ambos governos, receberam o país desestruturado com pendências econômicas e sociais e que ainda perduram até o momento.
Antes mesmo de assumir a presidência, Jair Bolsonaro teve que explicar o motivo de Fabrício Queiroz ter depositado R$ 24 mil na conta da ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro. Além disso, houve a investigação de seu filho, Flávio Bolsonaro, onde o Coaf suspeitou de alguns depósitos na conta do mesmo, no valor de R$ 92 mil. Houve também um pedido de ajuda com urgência no Ceará devido a uma série de ataques de facções criminosas em prédios públicos e veículos do transporte coletivo.
Reformas como a da Previdência e do Trabalho foram realizadas para colocar o Brasil “nos trilhos”, e com a chegada da Covid-19, a popularidade do ex-presidente Bolsonaro decaiu e uma série de denúncias foram feitas, entre elas, a falta de resposta às ofertas de vacina da Pfizer e também o caos da falta de oxigênio em Manaus. Além disso, os custos eleitorais da campanha de 2022 de Bolsonaro, podem ter contribuído para colocar o país em uma espiral regressiva.
Em comparação aos primeiros meses de Lula, o presidente ainda enfrenta certos desafios para conseguir base sólida no congresso, no momento, ele conta com apoio instável na política. Na economia, ainda enfrenta problemas com o mercado, além das críticas a taxa da Selic em 13,75% ao ano, também segue com dificuldades quando o assunto é sustentabilidade fiscal, por falta de planejamentos mais concretos em relação às contas públicas.
No meio ambiente, Lula tem recebido pouco apoio internacional, mesmo Marina Silva sendo um nome forte no mercado, além disso, o atual presidente da república, tem feito declarações sobre a guerra Rússia-Ucrânia, até em então, repudiadas pelo presidente ucraniano,Volodymyr Zelensky.
Para o especialista Victor Missiato, analista político, doutor em História Política e professor do Colégio Presbiteriano Mackenzie –Tamboré, por mais que ainda seja o começo do governo Lula, já há diferenças visíveis em comparação aos primeiros dias do governo Bolsonaro. “Em seus primeiros cem dias Lula acenou para medidas sociais na área da bolsa família, bolsas de estudos, tentativas de mudar o crédito consignado, revisões das estatais. Bolsonaro adotou uma estratégia mais liberal, buscando o corte de ministérios, a escolha de super indivíduos nos ministérios, bem como um mini programa de desburocratização econômica”. analisa Missiato.
Ainda na visão do especialista, Lula deve aproveitar seus primeiros anos para aprovar uma reforma tributária capaz de diminuir o custo Brasil, e no momento, e que talvez, esperar do atual governo uma reforma administrativa que consiga modernizar a máquina estatal possa ser algo difícil. Sinalizar a diminuição da dívida como tem tentado Fernando Haddad, ainda sem um sucesso efetivo, e desamarrar o nó tributário brasileiro é um começo para atrair os investidores.
“Lula navegou em mares tranquilos quando a oposição esteve presente nos ataques de 8 de janeiro ou quando houve a polêmica com as joias de Bolsonaro. Seu único trunfo é o estado de expectativa que ainda ronda seu governo. O caminho passa pela instauração de um projeto de país. Se isso não acontecer, o Banco Central irá remar para um lado, a Câmara para outro, o Senado ficará ancorado e assim vai. Em um país presidencialista, quem define o caminho é o governo”. aponta o analista político.
Segundo a nova pesquisa do Datafolha, o governo Lula é aprovado por 33% e reprovado por 30% dos paulistas, percentuais que, no conjunto do Brasil, são de 38% e de 29%. Em comparação ao governo Bolsonaro, em abril de 2019, quando completou seus cem dias, 30% dos entrevistados consideraram o governo de Bolsonaro ruim ou péssimo, comparado aos primeiros dias do Collor, FHC e Dilma, Bolsonaro ainda alcançou o pior índice, na época.
No momento, além de uma comunicação e base com os militares, Lula deverá congregar uma política nacional de desenvolvimento para o pós-Pandemia. Referente às medidas econômicas, o clima ainda pode ser de iniciante, devido a diversos obstáculos com a comunicação junto ao mercado.