
Uma mulher singular
Vivian Gornick
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Espécie de sequência natural de Afetos ferozes, este Uma mulher singular é um mapa fascinante e comovente de ritmos, encontros casuais e amizades em constante mudança que compõem a vida na cidade, neste caso, Nova York. Enquanto passeia pelas ruas de Manhattan — novamente na companhia da mãe ou sozinha —, Vivian Gornick observa o que se passa à sua volta, interage com estranhos, intercala anedotas pessoais e meditações sobre a amizade, sobre a atração (tantas vezes irreprimível) pela solidão e também sobre o que significa ser uma intelectual feminista num mundo frequentemente hostil às mulheres e sua luta por autonomia.
Gornick explora como os afetos a forjaram, mesmo sendo tão independente, em uma cidade que, aliás, parece de alguma forma espelhar sua busca pessoal: a Nova York destas páginas transpira a aspereza e o orgulho típicos de uma metrópole, mas também oferece uma miríade de afetos para todos os gostos. “Eu continuava sendo a filha da minha mãe. Agora, ela era o negativo e eu a imagem, mas lá estávamos as duas: sozinhas, finalmente, sem o cara certo”, escreve Vivian Gornick a certa altura deste Uma mulher singular.
Escrito como uma colagem narrativa que inclui peças meditativas sobre a formação de uma feminista moderna, o papel do flâneur na literatura e a evolução da amizade, Uma mulher singular é também um dos últimos trabalhos de tradução empreendidos por Heloisa Jahn — uma das grandes editoras e tradutoras do país, leitora onívora e generosa, responsável por apresentar diversos autores ao público brasileiro e que sempre viveu rodeada de afetos —, morta em 2022.
Uma das grandes intelectuais americanas em atividade, Vivian Gornick nasceu em Nova York em 1935. É autora de diversos livros de ensaios sobre temas que vão da escrita criativa ao feminismo. Seu Afetos ferozes (publicado pela Todavia) foi eleito o melhor livro de memórias dos últimos cinquenta anos pelo New York Times.
O segredo da força sobre-humana
Alison Bedchdel

Após a publicação dos aclamados Fun Home e Você é minha mãe?, Alison Bechdel explora, neste também autobiográfico O segredo da força sobre-humana, sua história de fascínio pelos exercícios físicos, desde a infância, nos anos 1960, até os dias atuais, quando a autora percebe as limitações de um corpo que já não tem o mesmo vigor e flexibilidade de antes.
Dando continuidade ao seu bem-sucedido projeto de investigação pessoal, e sem cair em um discurso vazio de culto a um “corpo perfeito”, Bechdel nos guia por uma história que é ao mesmo tempo coletiva e individual, relembrando, com ironia e bom humor, as modas fitness dos anos 1960 aos anos 2000, passando pelos vídeos de aeróbica de Jane Fonda, pela proliferação da prática de ioga e chegando às populares aulas de spinning.
Indo além da sua própria relação com os exercícios, a autora traça um delicado paralelo entre sua história de vida década a década — o suicídio do pai, a sexualidade, o ativismo LGBTQ, os relacionamentos amorosos, a relação com a criatividade, com espaços urbanos e rurais, a morte da mãe — e a biografia de escritores e escritoras, como Margaret Fuller, Jack Kerouac, Adrienne Rich e Samuel Coleridge.
Depois de passar por diversas modalidades de esporte de todas as intensidades possíveis e imagináveis, nessa busca quase obsessiva por controle que Bechdel aos poucos constata ser inatingível, ela se dá conta de que o segredo da força sobre-humana não está num corpo definido, mas, sim, em algo que ainda é um tanto quanto indefinido para todos nós: a relação com as outras pessoas, com a natureza e com nós mesmos.
Alison Bechdel nasceu em Lock Haven, na Pensilvânia, em 1960. É autora de Você é minha mãe? (Quadrinhos na Cia., 2013 ), de Fun Home (Todavia, 2018 ) — que colecionou dezenas de prêmios e foi adaptado para a Broadway — e da coletânea O essencial de Perigosas Sapatas (Todavia, 2021). Seus quadrinhos apareceram em publicações como Granta e New Yorker.
Jogo de armar
Edgard Telles Ribeiro

Como ocorre em algumas das obras de Edgard Telles Ribeiro, um escritor assume as vestes do personagem. Desta feita, contudo, vamos achá-lo em um apartamento carioca, no qual, há décadas, reside com a mulher. Apesar do cenário falsamente claustrofóbico, o livro voa como um pássaro — que nem por isso deixa de lidar com suas gaiolas. Visto em perspectiva, Jogo de Armar assume a forma de uma sinuosa história de amor — um Jogo de Amar.
Nessa incursão, entremeada de referências ocasionais a seu passado, o personagem conta com uma baliza permanente: a presença discreta de sua mulher. Mais do que uma parceria, eles formam um todo, ela jornalista, depois fotógrafa; ele músico, depois escritor. Em séculos anteriores, teriam sido saltimbancos e vivido ao ar livre, percorrendo vilarejos de circo em circo. Ao final, o casal embarcará em uma aventura singular, quando as grades emocionais desaparecem por completo e os dois personagens dão início a uma viagem sem fim. Visto em perspectiva, Jogo de Armar assume então a forma de uma sinuosa história de amor — um Jogo de Amar.
Jornalista, cineasta, diplomata e professor de cinema, Edgard Telles Ribeiro é autor de treze livros. Seu romance de estreia, O criado-mudo (1991), saiu na Espanha, na Alemanha, nos Estados Unidos e na Holanda. Publicou ainda O livro das pequenas infidelidades (1994), As larvas azuis da Amazônia (1996), Branco como o arco-íris (1998), No coração da floresta (2000), O manuscrito (2002), Histórias mirabolantes de amores clandestinos (2004, 2º lugar do prêmio Jabuti e 3º do Portugal Telecom, na categoria romance), Olho de rei (2005, prêmio de melhor romance da Academia Brasileira de Letras e 3º lugar do prêmio Jabuti), Um livro em fuga (2008), O punho e a renda (2010, vencedor do prêmio Pen Clube) e Damas da noite (2014). Dele, a Todavia publicou Uma mulher transparente (2018) e O impostor (2020), este último lançado nos Estados Unidos pela Bellevue Literary Press.
A mulher do padre
Carol Rodrigues

Neste romance formado por memórias reais e inventadas, Carol Rodrigues conduz o leitor pelos momentos de desbravamento e introspecção que acompanham o amadurecimento de Lina, uma menina ocupada em observar o que acontece e o que não acontece ao seu redor. Um prato cheio de nostalgia para quem cresceu na década de 1990, com referências inescapáveis e memórias (tão deliciosas quanto constrangedoras) que podem ser compartilhadas entre muitos de nós.
Conhecemos Lina, e o mundo interpretado dentro de sua cabeça, quando ela está morando com os pais na Inglaterra. Ela nos apresenta a seu dia a dia, suas comidas preferidas, seus brinquedos, mas também à mancha na testa da mãe — que a deixa triste e, por vezes, violenta —, aos vizinhos, Harry e William (os nomes não estão aqui por acaso), que a convidam a brincadeiras inusitadas, e também a seu medo da vaca louca — apenas uma das muitas referências aos anos 1990 presentes na narrativa.
De volta ao Brasil com a família, Lina vivencia momentos marcantes da história do país — como as manifestações dos cara-pintadas na Era Collor —, sempre com o olhar curioso de quem ainda está crescendo e tentando entender o mundo. Ela sonha em patinar como as atendentes de uma rede de supermercados, odeia as aulas de balé e vai aprendendo a lidar, tateando, com uma mãe de humor inconstante e um pai que sempre parece meio perdido.
A mulher do padre é um prato cheio de nostalgia para quem cresceu na década de 1990, com referências inescapáveis e memórias (tão deliciosas quanto constrangedoras) que podem ser compartilhadas entre muitos de nós. Nesse cenário, testemunhamos os momentos de dúvida, ternura e violência de Lina, e, com doses de humor e horror, somos lembrados de como a infância, com seu não saber e não entender, pode ser um momento de muita solidão e dúvida, mas sempre cheio de vida.
Carol Rodrigues nasceu no Rio de Janeiro, em 1985, e vive em São Paulo. Com seu livro de estreia, Sem vista para o mar (Selo Edith, 2014), ganhou os prêmios Jabuti e Clarice Lispector da Biblioteca Nacional. Seu segundo livro, o romance O melindre nos dentes da besta (7Letras, 2019), foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura e do Jabuti. É mestra em Estudos de Performance pela Universidade de Amsterdam e trabalha como roteirista, curadora e professora.
Operação impeachment: Dilma Rouseff e o Brasil da Lava Jato
Fernando Limongi

No centro do argumento deste livro está a ideia de que presidentes não são criaturas frágeis, expostas ao risco de cair por qualquer motivo. “Impeachments são e devem ser processos excepcionais”, diz o autor. A partir de uma análise minuciosa do processo que levou à queda de Dilma Rousseff, Fernando Limongi esmiúça a vida política brasileira, num retrato multifacetado, que é também um bem-vindo contraponto à rinha ideológica que paralisou o debate de ideias no país.
Cientista político reconhecido por seus trabalhos sobre a relação entre Executivo e Legislativo no Brasil, o autor recupera cada lance do processo que culminou na queda de Dilma, reconstituindo um quebra-cabeça com idas e vindas entre partidos e coligações, deputados trânsfugas, denúncias de corrupção, delações e vazamentos, juízes e promotores com ambições políticas, manifestações de rua e de atores sociais organizados.
O livro aborda as várias investidas contra a presidente. A primeira foi a tentativa de emparedar Dilma, ainda no primeiro mandato. A segunda, após sua recondução ao governo, ocorreu quando a aliança entre partidos de oposição e movimentos sociais antigoverno colocou o impeachment na agenda. A terceira remonta ao segundo semestre de 2015, momento em que Eduardo Cunha (PMDB -RJ) deixou a base do governo e foi para o ataque. A última partiu da operação Lava Jato e desferiu o ataque final.
O autor analisa o impeachment de Dilma à luz do entrelaçamento entre a dinâmica do sistema político e as consequências políticas da Lava Jato. Com base em uma reconstituição minuciosa da conjuntura, Limongi não apenas puxa o fio da meada que levou à queda de Dilma, mas faz um retrato de um país entorpecido por uma cruzada contra a corrupção que em pouco tempo mostraria seus pés de barro.
Fernando Limongi é doutor em ciência política pela Universidade de Chicago e professor titular de ciência política da USP e da FGV. Seus trabalhos têm tido papel decisivo no entendimento do presidencialismo de coalizão e dos governos democráticos. Publicou, em coautoria com Adam Przeworski, José Antonio Cheibub e Michael Alvarez, Democracy and Development (Cambridge University Press) e, em coautoria com Argelina Figueiredo, Executivo e Legislativo na nova ordem constitucional e Política orçamentária no presidencialismo de coalizão (pela editora
FGV). Foi presidente do Cebrap e colunista do jornal Valor Econômico.
Na trilha do pop: A música do século XX em sete gêneros
Kelefa Sanneh

Neste livro extraordinário, o crítico musical Kelefa Sanneh revisita cinquenta anos de música pop numa viagem vertiginosa por estilos, culturas, sucessos e fracassos. Enxergando o pop como um fenômeno que não apenas mobiliza fãs, mas cria comunidades e estilos de vida, Sanneh investiga os sete gêneros que deram à luz um movimento caótico de influências, pioneirismo e comercialismo. Um mosaico vibrante dos artistas e estilos que moldaram as últimas décadas musicais.
Ao longo de sete capítulos, Sanneh, com seu gosto onírico e enciclopédico, apresenta a música pop como uma forma de arte (na verdade, várias formas de arte), como uma força cultural e econômica e como uma das ferramentas que usamos para construir nossa identidade. Assim, ele explica e conecta a história dos slow jams, as origens do punk, a genialidade de Shania Twain e o porquê de os rappers estarem sempre se metendo em encrenca.
Sanneh revela como esses gêneros foram definidos pela tensão entre o mainstream e os outsiders, entre autenticidade e falsidade, bom e mau, certo e errado. E, em meio a tudo isso, a questão racial é levada ao centro do debate: assim como sempre houve público negro e público branco, com mais ou menos sobreposição dependendo do momento, houve música negra e música branca, constantemente se misturando e se separando. Sanneh desmascara mitos, reavalia heróis amados e derruba ideias familiares de grandeza musical, argumentando que, às vezes, a melhor música popular não é transcendente.
As canções expressam nossos rancores tanto quanto nossas esperanças, e são motivadas tanto pela ganância quanto pelo idealismo. A música aparece como uma ferramenta poderosa para a conexão humana, mas também para o antagonismo humano. Este é um livro sobre a música que todo mundo ama, a música que todo mundo odeia e a discussão de décadas sobre qual é qual.
Kelefa Sanneh nasceu em 1976, no Reino Unido. Trabalha na revista New Yorker desde 2008, tendo sido, antes disso, crítico musical do New York Times durante seis anos. É também colaborador do programa de tevê Sunday Morning. Mora em Nova York com sua família.