Espero que essa carta encontre você ansioso e com o coração fervilhando de expectativa. Escrevo-lhe como um colega que, como você, já esteve na linha de partida da maratona chamada advocacia criminal. Compartilho estas palavras não como um manual, mas como faróis num caminho muitas vezes nebuloso e tumultuado.
Primeiramente, permita-me lhe fazer uma pergunta: “Por que a advocacia criminal?” É uma interrogação simples, cuja resposta, contudo, revela um complexo labirinto de intenções e aspirações. A resposta a essa pergunta é o primeiro passo para entender se você possui a vocação para este desafio.
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Se o glamour da televisão, os ternos elegantes ou a promessa de riqueza foram suas inspirações, permita-me dizer-lhe com a candura de um velho amigo: repense sua escolha. Embora nossa profissão possa conter todos esses aspectos, eles são apenas os adornos superficiais de um ofício muito mais profundo e árduo.
Ser um advogado criminalista é mais do que um trabalho, é uma vocação. Como Martin Luther King Jr. disse uma vez: “Se um homem é chamado para ser um varredor de rua, ele deve varrer as ruas como Michelangelo pintou, como Beethoven compôs música ou como Shakespeare escreveu poesia”. Assim também, um advogado criminalista deve abraçar sua profissão com a mesma devoção e paixão.
Cada caso que você aceitar será uma batalha intensa entre inocência e culpa, entre a justiça e a injustiça. Aqui, a coragem, a determinação e a astúcia serão suas melhores amigas. Mas, acima de tudo, é a paixão pela justiça que o manterá firme durante as marés mais difíceis.
Prepare-se para noites insones. Prepare-se para dias imerso em estudos, em busca de precedentes, esboçando argumentos. Prepare-se para enfrentar promotores incisivos, juízes enigmáticos e clientes desafiadores. E mesmo com tudo isso, você pode não vencer sempre. Isso, entretanto, não significa que você é um mau advogado. Significa simplesmente que a batalha da justiça é, por natureza, intensa e incerta.
Agora, o aspecto mais delicado de ser um advogado criminalista é a necessidade de empatia. Conforme o filósofo alemão Friedrich Nietzsche afirmou: “Quem com monstros luta cuide para que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro”. Como um advogado criminal, você estará representando pessoas acusadas dos crimes mais diversos, alguns bastante desagradáveis. Mas é essencial se lembrar que seu papel não é julgar, mas garantir que o direito de defesa seja plenamente exercido.
Você deve se colocar no lugar do seu cliente, independentemente do que ele possa ter feito. Você precisa ter a capacidade de defender seus direitos legais, mesmo que o mundo inteiro esteja contra ele. Isso requer um alto grau de empatia e resistência emocional, qualidades estas que são tão vitais quanto a habilidade de argumentar um ponto de direito.
Finalmente, a advocacia criminal não se resume apenas a vencer casos. Como disse o filósofo grego Platão: “A medida do homem é o que ele faz com o poder”. Como advogado, você terá poder – o poder de defender, o poder de influenciar, o poder de mudar vidas. Use-o com sabedoria, com compaixão e, sobretudo, com integridade.
Depois de todas essas reflexões, se você ainda se sentir atraído pelo chamado da advocacia criminal, então, meu amigo, talvez esteja no caminho certo. Que a sua jornada seja repleta de aprendizados, que a sua coragem nunca desvaneça e que a sua paixão pela justiça seja sempre a sua bússola.