Operação da Polícia Federal (PF) Tempo da Verdade, autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, encontrou indícios de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados participaram da organização de uma tentativa de golpe de Estado para se manter no poder.
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As informações obtidas a partir de mandados de busca e apreensão e da delação premiada do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, colocam o ex-presidente no centro da trama golpista.
No gabinete de Bolsonaro na sede do PL, em Brasília, a PF encontrou um documento com conteúdo golpista que anunciaria a decretação de um estado de sítio e a imposição da garantia da lei e da ordem no país.
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No notebook de Cid, a PF encontrou um vídeo a gravação de uma reunião, em julho de 2022, em que Bolsonaro convoca seus ministros para discutir estratégias que evitassem derrota nas eleições.
Os investigados se uniram para disseminar notícias falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro com objetivo de criar condições para invalidar a vitória de Lula na disputa de 2022.
Veja ano a ano, como Bolsonaro e aliados planejaram uma tentativa de golpe de Estado, segundo a Operação Tempo da Verdade.
2021
16 julho de 2021: o inquérito para investigar a atuação de milícias digitais com o objetivo de atentar contra a democracia e o Estado democrático de direito é aberto.
2022
5 de julho de 2022: Bolsonaro convoca ministros para uma reunião onde falam sobre a tentativa de um golpe de Estado. O vídeo da reunião foi encontrado pela PF no notebook do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid.
Veja íntegra do vídeo da reunião em que Bolsonaro e ex-ministros discutem trama golpista
Na reunião de 5 de julho:
Bolsonaro disse: “Se a gente reagir depois das eleições vai ter um caos no Brasil”.
“Não vai ter revisão do VAR. Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições”, diz General Heleno.
Em reunião, general Heleno falou em ‘virar a mesa’ da eleição
18 de julho de 2022: Bolsonaro reúne embaixadores e difama, sem provas, o sistema eleitoral brasileiro. À época pré-candidato è reeleição, Bolsonaro usou o Palácio da Alvorada e a estrutura do governo a fim de organizar uma apresentação para embaixadores de vários países na qual repetiu suspeitas, já desmentidas por órgãos oficiais, sobre as eleições de 2018 e a segurança das urnas eletrônicas.
30 de outubro de 2022: Lula vence o segundo turno das eleições e se torna presidente do Brasil pela terceira vez. Ao fim da apuração, Lula ficou com 50,90% (60,3 milhões de votos), e Bolsonaro, com 49,10% (58,2 milhões de votos).
11 de novembro de 2022: o tenente-coronel das Forças Especiais do Exército, Rafael Martins, conversa com Mauro Cid sobre manifestações em Brasília. Segundo prints de conversa que constam em relatório da PF, Rafael Martins perguntou a Cid onde as manifestações deveriam ocorrer e questionou se as Forças Armadas assegurariam a permanência dos participantes no local. A resposta de Cid foi positiva. Cid pediu a Martins que estimasse os custos de trazer pessoas para participarem da manifestação em Brasília.
15 de novembro de 2022: radicais fazem manifestações com intenções glopistas em Brasília no feriado da Proclamação da República.
28 de novembro de 2022: um documento encontrado em celular do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, tinha roteiro para um golpe de Estado. Cid fotografou e enviou como imagem para um contato salvo em sua agenda como “Major Cid – AJO Pr” neste dia. De acordo com a PF, “o envio, aparentemente, serviu como backup das imagens”.
28 de novembro de 2022: o coronel Bernardo Romão Corrêa Netto promove reunião com oficiais das Forças Especiais e envia minuta de uma carta para pressionar comandante do Exército.
9 de dezembro de 2022: Bolsonaro recebe e devolve minuta do golpe que prevê prisão de Moraes e novas eleições.
9 de dezembro de 2022: o general Theophilo Oliveira, do Comando de Orientações Especiais, coloca tropas à disposição para golpe. A investigação da PF aponta que o general, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército, se reuniu com Bolsonaro no Palácio da Alvorada e se colocou à disposição para aderir ao golpe de Estado, segundo conversas obtidas no celular de Cid. A condição de Theóphilo para aderir ao golpe e colocar tropas especiais nas ruas seria que Bolsonaro assinasse a minuta que determinasse o golpe de Estado.
14 de dezembro de 2022 a 31 de dezembro: o ministro do STF Alexandre de Moraes é monitorado pelos investigados.
15 de dezembro de 2022: o general Braga Netto chama comandante do Exército de “cagão”. Candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022, o general pediu a cabeça do então comandante do Exército, general Freire Gomes, por não aderir ao movimento golpista.
30 de dezembro de 2022: Bolsonaro deixa o Brasil e viaja para a Flórida. Com a viagem, o ex-presidente deixou claro que não passaria a faixa presidencial para Lula no evento da posse.
2023
1º de janeiro de 2023: Lula toma posse como novo presidente da República.
8 de janeiro de 2023: Golpistas invadem e destroem as sedes dos Três Poderes em Brasília. Em ataque à democracia sem precedentes na história do Brasil, os golpistas quebraram vidraças e móveis, vandalizaram obras de arte e objetos históricos, invadiram gabinetes de autoridades, rasgaram documentos e roubaram armas.
30 de março de 2023: Bolsonaro volta ao Brasil. Recebido pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e pelo ex-ministro Braga Netto, o ex-presidente diz que os integrantes do atual governo “não vão fazer o que bem querem com o futuro da nossa nação”.
30 de junho de 2023: TSE condena Bolsonaro e o declara inelegível por oito anos. Ele foi condenado por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação pela realização de uma reunião com embaixadores estrangeiros, no Palácio da Alvorada, na qual difamou sem provas o sistema eleitoral brasileiro. Com a decisão, a Corte declarou o ex-presidente inelegível até 2030.
9 de setembro de 2023: Mauro Cid fecha acordo de delação premiada. Moraes homologou o acordo de colaboração premiada. O ministro também concedeu liberdade provisória ao ex-ajudante de Bolsonaro, com cumprimento de medidas cautelares, como uso de tornozeleira eletrônica, limitação de sair de casa aos fins de semana e também à noite, e afastamento das funções no Exército.
18 de outubro de 2023: a CPI dos Atos Golpistas pede indiciamento de Bolsonaro e mais 60 pessoas. A comissão atribuiu quatro crimes ao ex-presidente, entre eles, tentativa de golpe de Estado. Um parecer aprovado por 20 votos a 11 também destacou envolvimento de militares.
2024
8 de fevereiro de 2024: a PF faz operação contra militares, ex-ministros e ex-assessores de Bolsonaro. Investigação tenta elucidar a participação dessas pessoas nos atos golpistas de 8 de janeiro. Ao todo, foram 33 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão preventiva.
8 de fevereiro de 2024: Bolsonaro é obrigado a entregar o passaporte.
8 de fevereiro de 2024: PF encontra na sede do PL documento com argumentos para decretar estado de sítio. O documento é uma espécie de discurso, por escrito, que sustenta que a ruptura do Estado Democrático de Direito estaria “dentro das quatro linhas da Constituição”, expressão muito usada por Bolsonaro em atos e discursos públicos quando presidente.