O Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina recuou 5,1% no primeiro trimestre de 2024 em comparação com o mesmo período do ano anterior, informou o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) do país nesta segunda-feira (24). Em relação ao último trimestre de 2023, o PIB argentino encolheu 2,6%, marcando a segunda queda trimestral consecutiva e confirmando a entrada do país em recessão técnica — definida pela queda da atividade econômica por dois trimestres seguidos.
Os meses de janeiro a março marcaram o primeiro trimestre completo do governo de Javier Milei, que tomou posse em dezembro de 2023. Após uma campanha prometendo corte de gastos e déficit fiscal zero, Milei implementou medidas drásticas, incluindo a paralisação de obras federais e a interrupção do repasse de dinheiro para os estados, com o objetivo de reduzir os gastos públicos. Além disso, o governo cessou os subsídios para tarifas de água, gás, luz, transporte público e outros serviços essenciais, o que resultou em um aumento expressivo nos preços ao consumidor.
O ajuste fiscal, apesar de ter permitido o primeiro superávit desde 2008, trouxe efeitos adversos significativos. O consumo privado caiu 6,7% no primeiro trimestre em comparação com o mesmo período do ano anterior, enquanto o consumo público recuou 5%, conforme dados do Indec. A suspensão de projetos de infraestrutura do Estado levou a perdas de empregos, especialmente no setor de construção, elevando a taxa de desemprego para 7,7% no primeiro trimestre, em contraste com os 5,7% no final do ano passado. Isso significou cerca de 300 mil novos desempregados desde o trimestre anterior.
O impacto nas finanças pessoais também foi severo. A inflação acumulada em 276,4% e a intensificação da crise econômica fizeram com que 41,7% dos 46,7 milhões de argentinos caíssem abaixo da linha da pobreza, segundo o Indec. Até o churrasco, uma das maiores tradições argentinas, sofreu: em março, o consumo de carnes atingiu o menor nível em 30 anos, conforme a Câmara da Indústria e Comércio de Carnes e Derivados da Argentina.
No comércio exterior, enquanto as importações caíram 20,1% no primeiro trimestre, as exportações aumentaram 26,1%, refletindo as políticas econômicas do novo governo.
Javier Milei tem defendido suas ações como necessárias para reorganizar as finanças do país, após anos de déficits que prejudicaram a reputação da Argentina junto a investidores globais. No entanto, a melhoria das contas públicas vem ao custo de impactos sociais profundos, incluindo o aumento da pobreza e a deterioração do consumo e do emprego.
A situação econômica argentina permanece delicada, com a população enfrentando desafios significativos enquanto o governo busca equilibrar suas finanças e recuperar a confiança dos investidores internacionais.