A Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) continua a ser palco de um dos episódios mais desmoralizantes da política recente. Meses após a confissão de corrupção pelo seu presidente, Ademar Traiano (PSD), em um acordo com o Ministério Público, a casa legislativa não só arquivou o processo contra ele, como parece ter esquecido completamente do escândalo. A indiferença diante de um caso tão flagrante é um indicativo claro de como a blindagem política e a falta de responsabilidade continuam a corroer as instituições democráticas.
Em 6 de março de 2024, a Alep arquivou o processo do Conselho de Ética contra Traiano, que havia admitido ter recebido R$ 100 mil em propina de um prestador de serviços. A denúncia, apresentada pelo deputado estadual Renato Freitas (PT), baseava-se em um acordo de não persecução penal firmado por Traiano em 2022. Apesar da confissão, a decisão do Conselho de Ética, liderada pelo relator Matheus Vermelho (PP), foi de que o caso não poderia ser analisado por ter ocorrido antes do atual mandato.
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Esta interpretação estreita e conveniente do Regimento Interno não apenas assegurou a permanência de Traiano no cargo, mas também simbolizou a impunidade institucionalizada. Os meses que se seguiram ao arquivamento do processo mostram um silêncio ensurdecedor da Alep e uma complacência que só agrava a percepção pública de que a corrupção é tolerada quando envolve figuras de poder.
O escândalo começou a vir à tona quando Renato Freitas utilizou o material da confissão de Traiano em sua defesa contra um processo disciplinar movido dentro da Alep. Freitas havia chamado o presidente da casa de “corrupto” durante uma discussão em outubro de 2023, e a revelação do acordo foi sua resposta às acusações de calúnia. A confissão de Traiano, feita em dezembro de 2022, foi inicialmente ocultada por uma decisão judicial, mas a liminar que impedia sua divulgação foi derrubada em 6 de março de 2024, permitindo que o conteúdo fosse publicado pelo portal g1, pela RPC e pelo jornal Plural.
A única voz dissonante no Conselho de Ética foi a do deputado Hercílio Turini (PSD), cujo voto contrário ao arquivamento foi um esforço solitário contra uma maré de autoproteção política. Os outros dois integrantes do conselho não compareceram à sessão, reforçando a imagem de um sistema político indiferente às demandas de justiça e transparência.
A cronologia dos eventos revela uma trama de corrupção que começou em 2015, com Traiano e o ex-deputado Plauto Miró solicitando propina de Vicente Malucelli, diretor da TV Icaraí. Mesmo com a admissão dos crimes e a devolução dos valores indevidos, a homologação dos acordos de não persecução penal, quase um ano após a assinatura, parece ter encerrado o caso aos olhos das autoridades, mas não para a opinião pública.
A permanência de Ademar Traiano na presidência da Alep, meses após a revelação de seu envolvimento em corrupção, é um insulto à moralidade pública e à responsabilidade institucional. Essa inação frente a uma confissão explícita demonstra como a blindagem política não só protege os poderosos, mas também mina a confiança dos cidadãos nas instituições.
Esse período sem qualquer ação corretiva efetiva sinaliza uma perigosa normalização da corrupção e da impunidade. A Assembleia Legislativa do Paraná, ao deixar que este caso caia no esquecimento, apenas reforça a percepção de que, para alguns, o poder serve como escudo contra a justiça. A desmoralização da Alep é completa, e a mensagem transmitida é clara: a corrupção compensa.