Desde o último fim de semana, estive profundamente imersa em reflexões sobre como descrever a experiência do show “Caju” de Liniker, realizado em Curitiba. “Caju” transcende uma simples experiência auditiva; ele se manifesta como uma vivência sensorial completa, que exige total atenção para ser verdadeiramente apreciado.
Cada nota musical em “Caju” parece se desdobrar como a carne suculenta de um caju, rica e envolvente. Liniker e sua banda entregaram uma performance vibrante, notável pela interação intensa com o público e por um cuidado visual impressionante no palco. Cada música serviu como um convite para mergulhar nas narrativas sonoras e visuais criadas.
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Desafios e expectativas com o local do show
Inicialmente, estava apreensiva quanto à escolha do local, a casa de shows Live. Minhas reservas eram várias, incluindo o horário tardio de início dos eventos anteriores, o alto custo dos produtos e a qualidade do som, que em shows passados se mostrou questionável. Lembro-me de uma experiência particularmente difícil durante um show do Raça Negra, onde uma amiga trans foi submetida a uma agressão transfóbica explícita.
Naquela ocasião, ao tentar acessar o show, ela foi discriminada pela equipe de segurança que insistiu que, por não estar “operada”, deveria ser revistada por um homem. Intervimos energicamente, corrigindo a funcionária e exigindo respeito pela identidade de gênero da minha amiga. Este episódio não foi apenas desagradável; foi um ato de transfobia, revelando uma violência estrutural ainda muito presente.
Transformação do espaço por Liniker
No entanto, a performance de Liniker transformou completamente tanto o espaço físico quanto o emocional. Ao subir ao palco, Liniker não era apenas uma cantora; ela era uma força transformadora. Com sua presença magnética, redefine o ambiente, tornando-o um refúgio para aceitação e celebração da diversidade.
A presença de Liniker, repleta de significados ligados às suas identidades trans e negra, trouxe uma camada adicional de ressonância ao evento. Ela exibiu uma felicidade e conforto com sua própria identidade, o que não só destacou sua autenticidade, mas também inspirou aceitação e reconhecimento mútuo. A celebração de sua identidade reforçou a coragem de enfrentar e transcender barreiras de discriminação, promovendo um espaço inclusivo para todos.
Reações emocionais e o impacto do Show
Enquanto Liniker se tornava um polvo de mil braços no palco, ocupando e envolvendo tudo ao redor com sua sonoridade intensa, observava a multidão se deleitando, cantando, aplaudindo e se emocionando. Eu refletia sobre minha própria reação emocional, preocupada inicialmente por não ter chorado nas músicas de amor. No entanto, percebi que meu coração não estava ressecado, mas sim em paz. Chorei, sim, mas foi de alegria ao ver tanta felicidade ao meu redor, reconhecendo em cada relação um “pote de ouro”.
Este evento não foi apenas uma exibição de talento musical; foi um ato de resistência e afirmação de identidade. Liniker não apenas ocupou o palco; ela o reivindicou, mostrando a todos uma visão de um mundo onde o amor e a aceitação podem florescer mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras.