Eduardo Bolsonaro, o deputado federal mais votado da história do Brasil, acaba de anunciar, em um vídeo publicado em suas redes sociais, nesta terça-feira (18/3), que se licencia do cargo para travar uma “batalha pela liberdade” nos Estados Unidos. O movimento tem tudo para ser uma reviravolta política épica… não fosse a falta de qualquer plano concreto além de vídeos inflamados e retórica de exílio autoimposto.
A narrativa é dramática: um parlamentar patriota, vítima de um regime de exceção, forçado a fugir para terras estrangeiras onde, finalmente, poderá lutar pelos direitos humanos. A realidade, porém, é bem menos heroica e muito mais conveniente. Afinal, abrir mão do mandato enquanto se mantém no conforto de um dos países mais seguros e desenvolvidos do mundo não é exatamente um sacrifício digno de Nelson Mandela.
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Se fosse qualquer outro político saindo do Brasil no meio de investigações e pressões judiciais, o próprio Eduardo e seus aliados gritariam “fuga!”, “covardia!”, “desrespeito ao eleitor!”. Mas quando o protagonista é um Bolsonaro, o roteiro se inverte. O que seria um escândalo vira “missão divina”. A desistência do cargo eletivo é rebatizada de “estratégia internacional”. E a confortável permanência no exterior se torna um ato de resistência, mesmo que o maior desafio enfrentado por ele até agora pareça ser encontrar um bom ângulo para os vídeos no Instagram.
Não há até o momento qualquer articulação política séria nos bastidores internacionais. Nenhum plano concreto de ação, apenas discursos inflamados para a bolha e promessas de que, um dia, a justiça será feita. Enquanto isso, o Brasil segue com seus problemas reais, e os eleitores paulistas que confiaram no deputado agora ficam sem representante — ou melhor, com um representante remoto, transmitindo indignação diretamente de algum ponto dos Estados Unidos.
Ao final, a grande dúvida que fica não é sobre liberdade, democracia ou justiça. É sobre qual será o próximo passo dessa saga: um novo vídeo denunciando a “ditadura” brasileira entre uma refeição e outra? Uma nova carreira como palestrante da extrema direita internacional? Ou, quem sabe, uma naturalização americana, caso a missão patriótica se estenda indefinidamente?
Seja como for, uma coisa é certa: no Brasil ou nos EUA, a família Bolsonaro sempre encontra uma forma de transformar qualquer crise em um grande espetáculo. Deus, pátria, família… e um Green Card, se possível.