Na última quarta-feira (9), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou uma carta aberta ao presidente Lula, impondo uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos EUA, com início previsto para agosto de 2025. O motivo? O Brasil, segundo ele, é protecionista, hostil, censura americanos e persegue Jair Bolsonaro. E isso precisa acabar.
A carta, escrita em linguagem informal e agressiva, não segue qualquer protocolo diplomático minimamente respeitável. Acusa o Supremo Tribunal Federal de emitir decisões “secretas e ilegais”, afirma falsamente que os Estados Unidos têm déficit comercial com o Brasil e sugere que o governo Lula tem a obrigação de encerrar os processos contra Bolsonaro — que responde a investigações por tentativa de golpe de Estado e está inelegível por decisão da Justiça Eleitoral.
Diante da gravidade do episódio, o governo brasileiro reagiu com sobriedade. Em nota publicada nas redes sociais, o presidente Lula reafirmou que o Brasil é um país soberano, com instituições independentes, e que “não aceitará ser tutelado por ninguém”. Ressaltou que a responsabilidade sobre processos judiciais é exclusiva do Judiciário, e lembrou que a relação comercial entre Brasil e Estados Unidos é historicamente superavitária para os americanos — com um saldo de 410 bilhões de dólares em 15 anos, segundo dados do próprio governo dos EUA. Lula também afirmou que qualquer elevação tarifária unilateral será respondida à luz da Lei de Reciprocidade Econômica.
Em gesto simbólico e institucionalmente robusto, o governo brasileiro devolveu a carta de Trump à Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, recusando-se a recebê-la oficialmente como correspondência diplomática. A mensagem foi entregue a um funcionário da representação norte-americana com a devida formalidade, mas sem a deferência que se reserva a aliados. Foi um recado claro: o Brasil não aceita ser ameaçado — nem em papel timbrado, nem por rede social.
Enquanto o governo brasileiro devolvia a carta à embaixada em defesa da soberania nacional, o deputado Eduardo Bolsonaro, atualmente licenciado de seu mandato, agradecia publicamente a Donald Trump pela tarifa imposta ao Brasil. Em vídeos publicados dos Estados Unidos, Eduardo parabenizou a medida e pediu apoio de congressistas americanos para impor sanções contra o ministro Alexandre de Moraes. A atitude, além de constranger o país no cenário internacional, escancara a disposição de certos agentes políticos brasileiros de atuarem no exterior contra as instituições nacionais, mesmo diante de medidas hostis à economia e à democracia brasileira.
O que mais preocupa, portanto, não é apenas a postura do presidente americano — já conhecida por sua agressividade e por seu histórico de desprezo pelas instituições democráticas —, mas a reação conivente de setores da política nacional. O apoio aberto a uma medida que fere diretamente os interesses econômicos e institucionais do Brasil revela uma distorção grave do debate público: quando o alinhamento ideológico se sobrepõe ao compromisso com o país, não há patriotismo — há submissão.
O Diário de Curitiba reafirma, neste editorial, sua defesa intransigente da soberania nacional, da independência entre os Poderes e da verdade factual. Consideramos inaceitável qualquer tentativa de interferência estrangeira em decisões judiciais legítimas, e repudiamos a normalização de sanções como forma de intimidação política.
É papel da imprensa livre denunciar abusos de poder — venham eles de Brasília, de Mar-a-Lago ou de qualquer outra parte do mundo. Também é papel dos representantes públicos brasileiros lembrar, sempre, que não há soberania possível quando se troca convicções democráticas por fidelidade ideológica a líderes estrangeiros.
Trump pode mudar de posição, como já fez antes. Mas os danos da submissão institucional e do silêncio cúmplice, esses, ficam. O Brasil merece respeito. E precisa, sobretudo, se respeitar.