O extremista raramente se reconhece como tal.
Ele se vê como “justo”, “corajoso”, “patriota”, “defensor da liberdade”. Mas toda vez que alguém grita por liberdade enquanto tenta calar o outro, há algo profundamente errado. Toda vez que um homem, em nome da fé, dissemina o ódio, há um evangelho adulterado. Toda vez que se diz amar o Brasil mas trabalha para que ele seja punido por outro país, é hora de chamar as coisas pelo nome certo: traição, desinformação, fanatismo.
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É isso que representa hoje a figura de Eduardo Bolsonaro.
Do alto de sua fantasia de exílio heroico, o deputado federal, filho do ex-presidente, atua como um influenciador internacional do negacionismo e da instabilidade. Suas falas recentes — em vídeos gravados nos EUA e amplamente divulgados — são um retrato assombroso do Brasil que se radicalizou ao ponto de aplaudir o próprio colapso.
Ele fala em “salvar o país”, mas quer apenas salvar o pai — aquele mesmo que responde no STF por tentativa de golpe. Ele fala em “liberdade das velhinhas presas”, mas se cala sobre o ataque ao Congresso, ao Supremo, à democracia. Ele denuncia “censura”, mas incita fogo. Literalmente. Em uma de suas falas, diz que talvez seja necessário “queimar a floresta inteira para pegar o monstrinho da Birmânia”.
Essa é a retórica que se esconde por trás de bandeiras, hinos, orações e emojis verde-e-amarelos. Um discurso travestido de zelo patriótico, mas cheio de insinuações golpistas, ameaças veladas e chantagem emocional. Uma manipulação milimetricamente calculada para mobilizar a massa de manobra que se julga “iluminada”.
E que massa é essa?
É a que acredita que há uma “ditadura do STF”, mas não se incomoda com um ex-presidente que quis anular eleições. É a que reclama de pagar impostos para o “Lula e a Janja viajarem”, mas idolatra um deputado que vive nos EUA com salário brasileiro, assessores pagos por nós, carro alugado com verba pública e uma missão pessoal: fazer lobby internacional contra o país onde nasceu.
É a que acredita que o Brasil está virando Cuba — enquanto aplaude sanções econômicas impostas por Donald Trump ao Brasil, torcendo para que as tarifas afetem nossa economia caso Lula e Alexandre de Moraes não sejam “destronados”.
É o Brasil do Nikolas Ferreira, do Silas Malafaia, do Zé Trovão, onde se clama por Deus no alto dos carros de som, mas se enterra a verdade sob os escombros da conveniência.
A ironia é cruel: foram ensinados a odiar “o comunismo” e acabaram virando massa de manobra de um populismo autoritário. Acreditam defender a pátria, mas são guiados por quem quer incendiar o país para salvar o ex-presidente, seus aliados — e meia dúzia de fugitivos que não são exilados políticos, são acusados de crimes.
Sim, há extremismo na esquerda também. Sim, há cegueira ideológica dos dois lados. Mas neste momento histórico, é a extrema direita brasileira que opera como uma seita internacionalizada, com tentáculos no trumpismo, nostalgia da ditadura e obsessão por poder. Não é oposição — é sabotagem.
E se o nome disso não for radicalização, o que é?
A pior parte é que muitos dos que embarcaram nessa ainda se acham livres. Dizem ter se “despertado”, mas apenas foram capturados. Dizem estar lutando por justiça, mas repetem o script de quem só quer vingança. Dizem amar a Constituição, mas querem rasgá-la quando o resultado das urnas não os favorece.
O Brasil que queremos não é o da unanimidade. É o da pluralidade democrática. O do debate com respeito. O da oposição com responsabilidade. O da fé sem fanatismo. O da pátria sem delírio.
Radicais, de direita ou de esquerda, não constroem o amanhã. Apenas tentam destruir o que não compreendem hoje.
E o que nos resta, nesse cenário, é denunciar — com palavras afiadas, mas corações lúcidos — que liberdade sem responsabilidade vira licença para o caos. E que o patriotismo sem verdade vira um culto vazio à própria mentira.