Um levantamento global conduzido pela ADP, divulgado por meio do Global Payroll Survey, revela que 32% das empresas ao redor do mundo planejam adotar soluções baseadas em inteligência artificial (IA) para otimizar seus processos de folha de pagamento nos próximos dois a três anos. O estudo, que ouviu líderes e profissionais de recursos humanos em diversos países, aponta para a crescente digitalização de uma área historicamente operacional, agora em processo de transformação para assumir um papel mais estratégico dentro das organizações.
Para Renata Marques Pereira, administradora com pós-graduação em Gestão Estratégica de Pessoas e Negócios, essa mudança representa um novo paradigma na forma como a folha de pagamento é conduzida. “Ao introduzir IA nesse processo, as empresas passam a contar com maior precisão nos cálculos, capazes de detectar inconsistências e antecipar possíveis falhas, liberando os profissionais de tarefas repetitivas e manuais”, avalia.
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Apesar das vantagens, Renata faz um alerta importante: a folha de pagamento vai muito além da automatização de rotinas. “A inteligência artificial pode ser útil em tarefas operacionais ou na checagem de dados básicos, mas a legislação brasileira é extremamente dinâmica e repleta de nuances que exigem interpretação humana. Confiar exclusivamente em sistemas automatizados pode comprometer a conformidade e a segurança jurídica das empresas”, afirma.
A especialista aponta que a integração entre IA e os sistemas de folha pode, sim, abrir espaço para um trabalho mais analítico e estratégico por parte dos profissionais da área. “Os profissionais deixam de ser apenas operadores e passam a atuar de forma mais consultiva, colaborando diretamente com áreas como finanças e planejamento. A tecnologia pode gerar relatórios mais robustos, facilitar auditorias e garantir maior controle sobre obrigações como o eSocial”, explica.
Outro ponto destacado por Renata é o impacto da IA na experiência do colaborador. “Com mais agilidade nos pagamentos e maior transparência nos demonstrativos, a confiança aumenta, o clima organizacional melhora e há até redução de turnover. Mas tudo isso depende de um uso responsável e consciente da tecnologia.”
Ela também reforça que a adoção de IA deve vir acompanhada de preparo técnico e estrutura adequada. “É fundamental que haja treinamento contínuo das equipes e auditorias frequentes nos sistemas utilizados. Modelos de IA mal configurados ou desatualizados podem gerar erros sistêmicos, amplificando falhas em vez de corrigi-las.”
Com atuação em conformidade legal e eficiência tributária, Renata vê com ressalvas a ideia de que a tecnologia possa substituir o trabalho especializado. “Minha atuação vai além da execução técnica. Tenho um olhar analítico voltado à legalidade e à eficiência fiscal. Já conduzi processos de revisão que resultaram em recuperação significativa de créditos para empresas, sempre com foco na segurança jurídica e na otimização dos recursos. Esse olhar crítico e estratégico, a IA ainda não consegue replicar”, finaliza.