
Era o fim da manhã de 24 de agosto de 2013 quando João Rafael Kovalski desapareceu no quintal, entre a casa da mãe e a dos avós, na área rural de Adrianópolis. O portão teria sido encontrado entreaberto. A vizinhança correu, a família se espalhou pela propriedade, e começou ali um tempo que já dura doze anos.
“O acesso ao rio era praticamente impossível para uma criança do tamanho dele”, disse a mãe, Lorena Cristina Conceição, em entrevista ao Diário de Curitiba. As duas casas eram cercadas por tela; entre o quintal e a água havia um barranco íngreme. Mesmo assim, a primeira resposta institucional apostou no óbvio geográfico: o rio.
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O Rio Ribeira de Iguape e a hipótese que não fechou
O Rio Ribeira de Iguape corre nos fundos do terreno. Equipes especializadas — entre elas o GOST — vasculharam margens, remansos e pontos críticos por dias. Nada. Nem um vestígio conclusivo. A leitura técnica de quem liderou buscas aquáticas foi direta: se houvesse queda no rio, a dinâmica da água e as condições de visibilidade à época teriam favorecido o encontro do corpo. Não favoreceu.
A mãe nunca comprou a hipótese do afogamento. “Meu coração diz que ele não caiu no rio.” A outra linha ganhou corpo: rapto — possivelmente por alguém que conhecia a rotina da família e o espaço.
Pistas frágeis, becos sem saída
Entre as poucas pistas, duas peças orbitam o inquérito sem se fixar a ele:
- um boné semelhante ao que o menino usava, localizado próximo ao rio;
- uma fralda com sangue, da mesma marca que a família utilizava.
Os exames de DNA não prosperaram: material insuficiente ou inviável para conclusão. O boné, por sua vez, tinha ampla circulação — não foi possível provar que era o de João Rafael. O caso foi reaberto e fechado em momentos distintos, com atenção do Sicride e da delegacia local, mas sem prova material que amarre qualquer hipótese.
A carta anônima e a perícia particular
Em 2023, uma carta anônima deixada no portão da família prometeu respostas: citava crime, apontava um suposto responsável. A mãe entregou o material à Polícia Civil do Paraná. Paralelamente, um perito particular em grafotecnia analisou o documento e traçou um perfil provável do autor — indícios psicológicos, conhecimento da rotina, linguagem. Nada, porém, rompeu o bloqueio probatório: a PCPR registrou falta de nitidez e elementos característicos suficientes para individualizar autoria da carta e avançar para além da especulação. O mistério seguiu intacto.
Doze anos depois: o que nos resta
Adrianópolis aprendeu a conviver com o vazio. A família, com a ambivalência entre memória e busca. Doze anos sem corpo, sem confissão e sem cena do crime equivalem a uma espécie de cárcere processual: todos presos à hipótese mais provável do coração e à mais confortável do inquérito — nenhuma delas provada.
No papel, o caso é um conjunto de tentativas. Na vida, é a fotografia de um menino de 1 ano e 11 meses que não envelhece na lembrança da mãe. “Vivemos com uma saudade imensa dele”, ela disse ao Diário. O resto é aquilo que torna qualquer reportagem insuficiente: o que ainda não sabemos.
Serviço e apelo
Qualquer informação verificável sobre o paradeiro de João Rafael ou sobre fatos relevantes à manhã de 24/08/2013 pode — e deve — ser encaminhada à Polícia Civil de Adrianópolis e ao Sicride. Informação boa é a que se prova. O que falta, doze anos depois, é justamente isso: prova.