
Salve, salve meus queridos gafanhotos, bora polemizar?
Nos últimos anos, observa-se um fenômeno preocupante no cenário gastronômico brasileiro: o crescimento de estabelecimentos que praticam preços elevados, mas entregam produtos e serviços de baixa qualidade. Essa realidade é potencializada por uma avalanche de propaganda em redes sociais, na qual influenciadores, muitas vezes sem formação ou conhecimento técnico, promovem experiências que não correspondem à realidade do consumidor.
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A crítica que proponho vai além da insatisfação individual. Trata-se de um alerta sobre como o marketing tem se sobreposto ao compromisso com a boa gastronomia. A sedução do “conteúdo instagramável” parece ter substituído o verdadeiro ato de cozinhar com técnica, respeito aos ingredientes e dedicação ao cliente.
Minha experiência mais recente ilustra bem o problema. Motivado por uma campanha digital impecavelmente produzida, visitei um restaurante japonês que prometia um rodízio com iguarias raras — camarões de grande porte, vieiras suculentas, caviar espanhol e lagostas servidas em robata, tudo a um preço considerado “justo”. O resultado, no entanto, foi frustrante: um atendimento simpático, porém pouco profissional, um menu “Omakassê Premium” caro e repetível à vontade, mas sem qualquer prato digno de repetição.
O que foi servido estava distante da promessa visual. O shari — elemento essencial de qualquer bom sushi — estava mal temperado; os cortes de peixe, sem brilho e sem frescor; e as elaborações, sem técnica ou cuidado. Esse descompasso revela um ponto central: não basta oferecer ingredientes nobres se o preparo não respeita fundamentos técnicos e culturais da culinária japonesa. Luxo não é sinônimo de qualidade gastronômica.
É fundamental refletirmos sobre esse movimento que prioriza estética e viralização em detrimento do sabor. A comida deixou de ser pensada para encantar o paladar e passou a ser montada para agradar o feed. Isso é um retrocesso cultural: desvaloriza o trabalho sério de cozinheiros e forma um público que acredita que qualidade se mede pela quantidade de likes.
O problema vai além do mero desperdício de dinheiro. Existe também a dimensão ética. Ingredientes como lagosta, que levam anos para atingir maturidade antes da captura, merecem respeito. Servi-los de forma descuidada é desperdiçar vidas e recursos naturais.
É preciso resgatar o essencial: um bom restaurante deve começar pelo básico, com arroz bem preparado, peixes frescos, cortes precisos, molhos equilibrados. Só depois faz sentido inovar ou sofisticar. O luxo precisa ser consequência de excelência, não substituto dela.
Convido, portanto, o leitor — e consumidor — a exercer um papel ativo na mudança desse cenário. Devemos cobrar qualidade, questionar recomendações superficiais e valorizar casas que realmente cozinham com alma. Mais sabor e menos “instagramabilidade”.
O futuro da gastronomia brasileira depende de consumidores críticos, dispostos a privilegiar o que realmente importa: comida bem feita. E fica aqui a mesma pergunta do início deste artigo, Por que continuamos pagando caro por “experiências”ruins? Pra mim, é porque queremos. Acorda gafanhoto, tá cheio de gente querendo te enganar.