A recuperação de terras degradadas está ganhando força como vetor de crescimento no mercado de M&A no agronegócio brasileiro. A tendência, que alia rentabilidade com sustentabilidade, desperta o interesse de fundos, empresas agroindustriais e players internacionais que buscam alinhar retorno econômico com impacto positivo.
Especialistas de mercado apontam vantagens no Brasil para o setor, destacando que “as oportunidades de M&A estão distribuídas por todo o país e envolvem cadeias produtivas específicas, ativos ambientais estratégicos e modelos inovadores de uso da terra”, observa João Silvério, sócio líder de consultoria empresarial e líder de crédito de carbono e economia verde da Grant Thornton Brasil.
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Unindo viabilidade econômica a impacto socioambiental, essa tendência tem atraído olhares. “Temos milhões de hectares degradados Brasil afora. Recuperar essas áreas para uso agrícola e geração de créditos de carbono é mais inteligente e sustentável do que desmatar novas regiões”, explica o especialista.
Oportunidades de norte a sul do País
O mapa das oportunidades de M&A no agronegócio sustentável brasileiro é tão diverso quanto seu território. Cada região do país reúne características produtivas, climáticas e sociais que moldam diferentes vocações econômicas — desde sistemas agroflorestais na Amazônia até cadeias de biomassa e reflorestamento no Sudeste e Sul. Em cada região brasileira destacam-se vetores de crescimento – considerando culturas agrícolas com forte aderência territorial, estratégias de regeneração produtiva das terras e o potencial de inserção em cadeias de valor sustentáveis e de baixo carbono.
Thiago Crisol, sócio de Auditoria e líder de Agronegócio da Grant Thornton Brasil, explica que “existem empresas que compram propriedades degradadas, fazem a reestruturação e as revendem. Isso movimenta o mercado com um perfil mais sofisticado de M&A, envolvendo dados georreferenciados, projetos técnicos e estruturação financeira”.
Segundo os especialistas, o panorama das oportunidades é diverso:
- Norte: sistemas agroflorestais no Pará e Amapá, com destaque para cacau e açaí, geram retorno econômico e conservam a floresta. Cadeias da bioeconomia, como óleos vegetais e mel nativo, ampliam o apelo internacional.
- Nordeste: a macaúba se destaca por seu potencial em biocombustíveis e créditos de carbono. Projetos com café em baixadas e parcerias com comunidades tradicionais fortalecem o viés ESG.
- Centro-Oeste: a conversão de pastagens em lavouras de soja e a cultura do Kiri japonês impulsionam o mercado de terras reestruturadas, com alto potencial técnico e econômico.
- Sudeste: biomassa a partir de cana-de-açúcar e seringueira sustentam modelos de agrofloresta e energia limpa. A atuação de incorporadoras rurais acelera o redesenho de propriedades degradadas.
- Sul: madeira Kiri e eucalipto encontram solo fértil para projetos de reconversão produtiva, apoiados por logística consolidada e demanda industrial.
ESG e estratégia internacional
Além da atratividade econômica, as oportunidades de M&A no agronegócio sustentável estão fortemente ancoradas em agendas ambientais, sociais e de governança (ESG), cada vez mais valorizadas por investidores e organismos multilaterais. A regeneração de áreas degradadas não apenas reduz a pressão por desmatamento de novas regiões, como também permite a geração de créditos de carbono certificados, que são ativos valiosos no mercado internacional.
Paulo Saretta, sócio de M&A da Grant Thornton Brasil, ressalta que os “projetos que envolvem comunidades tradicionais – como os povos quilombolas, ribeirinhos e indígenas — agregam valor reputacional e abrem portas para parcerias com fundos de impacto e instituições voltadas à bioeconomia e justiça climática.”
Desafios para o crescimento
O avanço do agronegócio sustentável no Brasil passa, cada vez mais, por estratégias estruturadas de fusões e aquisições que combinem regeneração produtiva, valorização ambiental e impacto social. Com potencial para liderar globalmente a transição para cadeias agrícolas de baixo carbono, o país reúne ativos únicos: terra disponível, diversidade climática, culturas adaptadas a diferentes biomas e comunidades prontas para integrar modelos de desenvolvimento mais inclusivos.
“O Brasil tem uma combinação rara de recursos naturais, conhecimento técnico e necessidade de recuperar áreas degradadas. As operações de M&A que estão surgindo agora não são apenas movimentos de expansão, mas decisões estratégicas que conectam produtividade, impacto ambiental e posicionamento global”, conclui Saretta.