Quando Anthony Bourdain, um dos grandes chefs que já passaram por este mundão de Deus, se matou em 2018 com o cinto do roupão em um quarto de hotel da França, todos se perguntaram, qual seria o motivo, muitas teorias foram levantadas, alguns diziam que ele estava com depressão haviam alguns anos, outros diziam que ele sempre foi assim, já amigos próximos defenderam que ele procurou ajuda, mas que não seguiu os conselhos médicos, tragédia à parte, afinal de contas para o mundo, perder alguém como Anthony é sempre dolorido e quase inaceitável, no entanto penso que nós, meros mortais desamparados devamos tentar enxergar o que aquele que nos deixou nos tocou e como mudou nossas vidas.
Vejam, sou um cozinheiro, escolhi ser assim, já fui Chef, pois comandava minhas próprias cozinhas, hoje sou professor de gastronomia, pode ser que em alguns anos em me torne simplesmente um escritor sobre o tema, mas ainda assim sou cozinheiro, e assim espero que você que quer entrar em nosso mundo também assim pense, você será sempre cozinheiro e deve acima de tudo ter muito orgulho disso e lembra sempre que se existe alguma profissão que te tira tudo do corpo e da alma é nossa, claro que temos os momentos de glamour, fotos, entrevistas, elogios e alguns mimos, mas de um modo geral 90% é transpiração “mermão”!
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Como cozinheiro, aprendo todos os dias, através de muitos incentivos, um que busco sempre é a leitura, ela me liberta e quando li pela primeira vez Cozinha Confidencial, eu literalmente me encontrei, parecia que eu estava conversando com um amigo de longa data, é assim que o Anthony se apresenta para o leitor, assim com nós cozinheiros temos e ainda teremos muitas histórias para contar, o Bourdain também as tinhas, e as contou com muita propriedade em sua obra. Quando no inicio das suas palavras ele fala das certezas da vida do cozinheiro e que lamenta ao dizer que na verdade não se sabe porra nenhuma desta vida, pelo menos as coisas que importam, e que as certezas estão nas coisas simples em como saber o ponto certo de um risoto, a melhor maneira de preparar uma omelete e de que chegar atrasado é sempre, sempre ruim, ele já nos ensina muito do mundo da gastronomia e por que não da vida fora dela, onde algumas condutas são inadmissíveis e outras toleradas.
O livro conta que o jovem Bourdain teve que ralar muito para se tornar chef, teve que lavar muita louça, estas inclusive uma de suas certezas, “de que os pratos entram sujos na lava louça e tendem a saírem limpos”. Reaprendi que sempre se começa de baixo, isso serve para lhe dar alicerces para as futuras enrascadas que seus cozinheiros de linha irão lhe colocar, sim isso irá acontecer, mais cedo ou mais tarde, esteja preparado meu jovem!!
Alguns conselhos ainda nos dias de hoje valem muito à pena serem compartilhados com você, jovem gafanhoto, vamos a alguns deles nas palavras do próprio Anthony.
Seja sempre comprometido, nunca, jamais fique em cima do muro e não enrole, seja obcecado pela vitória, goste de ganhar a todo custo, esteja sempre pronto para liderar, a obedecer (aqui preciso fazer um adendo, Aprenda a obedecer), ou sair do caminho. Não roube, nunca, nada e nem ninguém, isso um dia irá bater à sua porta, Seja amigo dos garçons, treine-os da melhor maneira possível, chegue sempre na hora, nunca invente desculpas, a preguiça é o maior dos pecados para um cozinheiro, seja rápido, engenhoso, empreendedor e verdadeiro. Esteja preparado para as injustiças deste mundo, sempre presuma o pior a respeito de tudo e de todos, assim você não se decepcionará. Tente não mentir, se cometer um erro, admita e parta para o próximo processo. Encare as coisas com bom senso e bom humor, não é o que o mundo lhe dá que faz a diferença, mas sim o que você faz com o que o mundo lhe dá.
Como último conselho concordando muito com o que Bourdain fala no livro, Leia, leia e leia, dos clássicos aos moderninhos, lembre-se você irá aprender todos os dias, aqueles que alguns chama de sorte eu prefiro enxergar como a união de preparo + talento + oportunidade. Corre atrás não desista, você consegue!!!
Texto Chef Alê Gonçalves