Por: Paulo Dalla Stella
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Como parte importante do trabalho de ressignificação de uma cultura empresarial que envolve treinamento para colaboradores em “soft skills” ou habilidades sociais e pessoais, é essencial que haja em primeira mão reconhecimento de que há diferenças geracionais em termos de comportamento e visão de vida dentro de uma empresa e de que essas precisam ser trabalhadas para melhor entendimento entre seus colaboradores. Vivemos um momento único em que membros da geração “Baby Boomers” que são aqueles nascidos entre 1945 e 1964 ainda estão no mercado de trabalho dividindo funções com membros da geração Z, que vieram ao mundo a partir de 1995. Tais diferenças de expectativas em relação à vida pessoal e profissional, valores pessoais, comportamento e conhecimento técnico nunca foram antes tão significantes como o são nos dias atuais.
Com o advento do crescimento exponencial em tecnologia que vemos acontecer nas últimas décadas, mudou-se também o comportamento das gerações mais jovens, especialmente a Z que hoje vê o mundo sob um ponto de vista demasiadamente diferente da geração dos baby boomers, a geração seguinte, a X e até a Y ou “millenials”. Conforme um dito popular, a geração Z e a atual, alfa, dos nascidos de 2010 para cá, já vieram ao mundo com um celular na mão e por conta disso, toda a ideia que têm de relacionamentos humanos, comunicação, marketing e trabalho é diferente das que a antecederam e refletem fielmente as mudanças ocorridas no mundo nestas áreas e em muitas outras.
Como observação pessoal, vejo em treinamentos de soft skills que têm como função, equalizar comportamentos e expectativas entre as gerações e assim promover um ambiente de trabalho mais ameno e produtivo, uma queixa geral entre os membros de gerações mais antigas a respeito da geração Z: A de que os mais jovens parecem ter perdido a educação e polidez no dia a dia entre as pessoas, pois nem mais dizem bom dia, com licença, por favor e desculpa, que são descomprometidos com a empresa e não ficam mais de alguns meses em cada emprego e de que não se importam com os valores antigos mais básicos como gerar família, ter um bom emprego fixo, ganhar dinheiro, comprar uma casa e um carro… enfim, valores materiais burgueses que marcaram a vida da maioria das pessoas nascidas após a segunda guerra mundial. Bem, de fato, esses comportamentos e atitudes parecem fazer parte da maioria dos membros da geração Z, que decidiram optar por qualidade de vida, ausência de estresse e ansiedade extrema que por sua vez também marcaram a vida de pessoas de gerações anteriores a deles.
Embora essa discussão possa gerar páginas e páginas de texto e debate, o intuito aqui é descrever os benefícios que passar a agir tal qual um jovem da geração Z poderia prover a pessoas mais maduras que, segundo pesquisa feita em 2019 pela empresa Capita People Solutions, contam por perto de 45% do número de pessoas que hoje desejam deixar seus empregos e funções por conta de elevado nível de estresse que põe em risco sua saúde física e mental. A atitude geral de Jovens de no máximo 25 anos de idade hoje de simplesmente poder dizer “não” para situações de alto grau de tensão pode ser na verdade um ato de coragem e resistência ao invés de falta de comprometimento ou medo da vida conforme as gerações mais antigas tendem a se referir a eles. A geração Z de hoje se preocupa mais em SER do que em TER, não está portanto mais ligada em dinheiro do que em seu bem estar geral e não dá importância aos valores vistos em sua família na imagem de seus pais ou avós e sobre os quais não quer mais repetir neste mundo com valores bem mais voltados a questões imediatas e de descobrimento do novo em lugares, pessoas, empresas e na vida em geral. A geração Z simplesmente dá um basta no preço que esses valores tão queridos aos membros de gerações anteriores ofereceu-lhes na forma de preocupação, submissão e falta de tempo para si e para seus entes queridos. A geração Z espera hoje em um trabalho ter mais autonomia, flexibilidade, ser avaliada por seus resultados ao invés de horas trabalhadas, menos burocracia, liberdade de ir e vir e paz de espírito ao focar em questões do aqui e agora, liberdade total para serem o que querem ser sem críticas preconceituosas vindas de pessoas que viveram em épocas mais “fechadas” e principalmente em poderem mudar de emprego, casa e país caso lhes sejam mais divertido e que lhes façam bem. A geração Z prega principalmente uma mudança de mentalidade em relação a preocupar-se em demasia com o futuro pois segundo eles, qualquer tipo de atenção exagerada a alguma coisa, fará desta coisa algo que não vale a pena experimentar. A geração Z também possui uma maior consciência em relação ao meio ambiente, às questões sociais em geral e em uma comunicação mais enxuta e mais prática que poderá inclusive envolver ausência de “bom dia”, “obrigado” e “por favor”, por exemplo.
Sinais dos tempos ou não, o mundo com certeza mudou bastante e com ele o comportamento dos mais jovens, naturalmente. Embora, de certa forma faltem-lhes uma atenção maior à práticas sociais já sedimentadas e esperadas pelas gerações mais velhas e isso é trabalhado em treinamentos de soft skills, será sempre mais fácil e produtivo se os mais velhos se adequassem à um modo de viver mais em linha com o pregado pelas geração Z do que esperar que eles se voltem para os mais maduros e adquiram seus costumes e “mindsets” de outrora. Sob a crítica principal de que lhes faltam também responsabilidade com o futuro, os “baby boomers” se preocupam com tal comportamento Z por acharem que o mundo estará desgovernado na mão de tamanha irresponsabilidade, mas daí, pergunto eu: Será mesmo?
Será que o mundo não mudará também? Não será mais fácil adaptarmos à uma atitude mais leve em relação à existência que se projeta em comportamento mais confiante do que ter medo ao acreditarmos que estaremos perdidos em pensar sem “responsabilidade”? Não seria mais irresponsabilidade adotarmos uma vida marcada pelo materialismo e em detrimento de nossa paz de espírito? Nos parece que estamos encaminhando para tempos bastante diferentes e não devemos preocupar em demasia com o futuro do mundo na mão dos jovens que hoje entram no mercado de trabalho com seus valores desapegados, pois além de não sermos capaz de mudar esta tendência, nos resta somente torcer para que no futuro, a geração Z saiba bem o que fazer com o que o novo mundo que está a despontar terá a lhes oferecer.