Por Paulo Dalla Stella
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Os primeiros escritores de auto ajuda a escreverem sobre o pensamento negativo lá pelo início do século XX, o consideraram, usando-se uma analogia religiosa comum na época, um verdadeiro pecado, uma aberração e algo para se evitar a todo custo sob pena de nos tornarmos reféns dos “demônios” de nossa própria mente e de sofrermos consequências graves sob a forma de fracasso, humilhação e eterna danação. Estariam eles errados ao se referirem ao pensamento negativo como criador de tantas agruras na vida humana? Claro que não. Estavam certos em citar a negatividade como o precursor de problemas em nossas vidas, mas devido ao fato de os estudos em neurociência ainda estarem em sua fase embrionária, pouco se falava sobre a origem dos pensamentos negativos, como evita-los, ou melhor, como domina-los através de entendimento mais didático de sua função na experiência humana. Livros de autoajuda que eram publicados naquela época somente davam o conselho simplista de nos mantermos longe deles e que pensássemos positivo para que tudo corresse em ordem em nossas vidas.
Pensamentos negativos são a bem da verdade funções normais de nosso cérebro que em termos primitivos os usavam na forma de medo como meio de nos proteger das intempéries do tempo assim como dos perigos e ameaças comuns e abundantes no habitat humano da época. Nosso cérebro, que hoje sabemos, é dividido em 3 partes, sendo elas o cérebro reptiliano, o chamado sistema límbico que lida com nossas emoções e reações instintivas como as de fugir ou lutar e o neocortex que seria como o conhecido cérebro novo e o qual nos diferencia dos demais animais por possuir funções mais elevadas os quais nos faz seres humanos, funciona ainda sobre influencias do mundo exterior de épocas primitivas e perigosas para nossa existência.
Embora o mundo atual não nos ofereça as mesmas ameaças de 300 mil anos atrás, nosso sistema cerebral ainda alerta, nos “prepara” a todo instante para possíveis perigos e nos faz reagir ao medo através de pensamentos que podem parecer negativos, daí nossa tendência a ainda ver o mundo de maneira perigosa e a processar inúmeros pensamentos de característica negativa como forma de nos proteger.
Os primeiros livros de autoajuda apesar de não irem a fundo em estudos que explicariam a origem de nossos pensamentos já mencionavam o fato de que se era necessário “dominar” pensamentos que não fossem construtivos para fins de uma melhor condição de vida e alcance de objetivos mais nobres. A filosofia estoica criada a cerca de 2300 anos atrás e que até hoje nos orienta nesse aspecto, sempre pregou o uso da negatividade dos pensamentos como forma de crescimento pessoal ao analisarmos a origem deles e o questionamento direto do porquê de nos afetarem da maneira como muitas vezes inutilmente nos afetam. Terapias como a terapia cognitiva comportamental (TCC), por exemplo trabalham diretamente com ferramentas objetivamente voltadas para o cerne da questão em termos de pensamentos negativos e os autores de autoajuda e neurociência atuais abordam o tema com mais leveza ao admitir a existência de pensamentos negativos como normais em nossa natureza humana ao invés de demoniza-los conforme os faziam seus colegas do século XX.
De acordo com estudos práticos, temos em média 60,000 pensamentos por dia sendo que 80% deles é de origem negativa. É muito pensamento negativo! Preocupações acerca de temas variados do dia a dia no campo familiar, profissional, financeiro, e saúde e muitos outros, quando em excesso e não dominados acabam por criar ansiedade ou depressão e hoje em dia são o que faz o trabalho de psicólogos, “coaches” e terapeutas vários valer a pena. Alguns profissionais do esporte avaliam que pensamentos negativos, quando dominados e entendidos ajudam a melhorar a performance de esportistas em geral. Quando uma derrota no esporte pode ser criada a partir de milésimos de segundos de distração por conta de um pensamento derrotista, treinar esportistas a eliminarem na fonte pensamentos que não serão produtivos e a ao substituírem por afirmações, que tais como mantras, ajudarão a manter a concentração adequada para uma atuação decente, é a função de psicólogos e coaches de esporte na atualidade.
Assim como a filosofia do estoicismo, a TCC, e o coaching esportivo e profissional, o segredo está em olhar o pensamento negativo em primeiro lugar como uma função normal do cérebro, a questionar sua origem e função e a transforma-lo em algo positivo por meio do uso de gatilhos mentais e técnicas de concentração produtivas. Em algumas abordagens é interessante a técnica racional de se perguntar se o que te aflige, realmente acontecesse, quais seriam as piores consequências, enfim o que de pior poderia acontecer se o motivo de sua preocupação de fato viesse a se tornar realidade. Diante deste questionamento pessoal, filosófico e realista muito do que nos preocupamos sem motivo viria a tona revelado como mera superficialidade e tal qual o estoicismo alerta: Aquilo ao qual temos nenhum controle, não devemos dar atenção, devemos sim, aprender com isso e adotar uma mentalidade profundamente voltada para a análise racional de tudo aquilo que nos aflige. Enfim, o único elemento a ser produtivamente demonizado é a falta de conhecimento de si mesmo e a atenção exagerada àquilo que não nos será no mínimo útil para nosso dia a dia de luta ou fuga.