Por: Paulo Dalla Stella
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Neste mundo mais que dinâmico, onde “trends” saem de moda de um dia para o outro é normal que tecnologias se tornem obsoletas em uma velocidade mais que espantosa, mas quando a mudança de valor se dá em comportamentos humanos, a coisa fica mais complicada. Chego a pensar se a velocidade das mudanças em comportamento deveriam seguir no mesmo passo que as mudanças tecnológicas e digitais. Seria vantagem para nós em todos os casos colocar por terra alguns hábitos que nos fazem pessoas com sentimentos, polidez no tratamento com os outros, carisma, empatia, por conta de seguir tendências de uma área quem nem sempre necessariamente está ligada com essas questões? E o que tem a ver deixar de pedir desculpas, por exemplo, com as mudanças exponenciais na maneira de se administrar a vida que presenciamos hoje em dia? Seria essa tendência das pessoas pararem de pedir desculpas por um erro ou deslize que cometeram algo global ou somente cultural aqui do Brasil? Seria dizer bom dia, com licença, obrigado ou por favor algo em desuso apenas pelas gerações mais novas ou estou eu “viajando” em acreditar que de fato as pessoas mudaram seus comportamentos e começam a agir como maquinas sem sentimentos e aquele toque charmoso que nos ajuda a criar lindas conexões com outras pessoas? Minhas observações do comportamento das pessoas no dia a dia indica que há sim uma tendência à falta de atenção a certos atos simples que não deveriam nunca ser considerados banais.
Minha filha americana vira e mexe está a me lembrar: “Daddy, no matter what happens, never forget your magical words” (Papai, não importa o que aconteça, nunca esqueça de usar as palavras mágicas). O que faz disso algo incrível é o fato dela ser da geração Z, que vem sendo apontada como a geração que “perdeu os modos”, me dizer para nunca esquecer de, em qualquer situação, usar as mágicas palavras desculpa, obrigado, por favor e com licença. À parte de me sentir orgulhoso com a educação que ajudei a dar à filhota que nasceu e mora em outro país, me pergunto se este comportamento não seria mesmo ligado à nossa cultura aqui na terrinha…
Não se trata somente de falta de educação não pedir desculpas, mas de conexão humana. Pedir desculpas mostra vulnerabilidade e há muito poder em se ser vulnerável quando se trata de criar conexões entre pessoas e também de fortalecer vínculos já existentes. Nada mais “hip” e “cool”, diria Melina, minha garota, ou elegante charmoso e poderoso do que admitir erros, mostrar sua humanidade, criar amizades e fortes ligações através de mostrar que você, não devendo nada a ninguém e estando seguro de sua força pessoal, não se achará diminuído ou humilhado se porventura tiver que admitir que vacilou. Se este for o problema: “Admitir erro pode ser sinal de fraqueza”, então de fato, nossa sociedade terá muito que aprender com alguns modos de vida mais antigos que mantinham acesa a chama e charme de se ser humano e isso, com certeza não tem nada a ver com o desenvolvimento e velocidade com que a tecnologia avança. Ser vulnerável não tem nada a ver com fraqueza e admitir que errou é com toda certeza sinal de força e maturidade emocional. Pedir desculpas por ter dito algo errado, por ter dado o troco incorreto, por ter deixado a conexão cair, por ter, por exemplo, esbarrado em alguém ou enviado o arquivo que não era pra ser é garantia de continuidade saudável daquele contato humano que deve sempre ser considerado mágico. Melina estava certa. Mágicos são os momentos em que podemos fazer os outros se sentirem bem. Mágico é saber que confiamos em nossa capacidade pessoal sem nos sentirmos ameaçados por um breve momento de vulnerabilidade, mágico é entender que o mundo pode mudar o quanto quiser e que certas coisas relacionadas à relações humanas nunca mudam e nem devem mudar.